“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, este trecho do evangelho de João, capitulo 8 versículo 32, foi repetido a exaustão pelo presidente Jair Bolsonaro, tanto durante a campanha eleitoral de 2018, quanto nos momentos em que se sentiu pressionado de alguma forma e pedia apoio aos brasileiros.
Até hoje, Bolsonaro se apresenta como um cristão temente a Deus e seguidor dos seus mandamentos. Mas, para cristãos como o presidente, os preceitos bíblicos servem apenas quando o favorecem. O que certamente, no momento, não é o caso do versículo do evangelho de João, que mais parece afronta aos seus interesses.
Afinal, há alguns dias Bolsonaro vem tentando a todo custo esconder da população os resultados dos exames que fez do coronavírus; o vídeo da reunião do conselho de ministros do dia 22 de abril, apontado pelo ex-ministro Sérgio Moro como uma das provas de que havia pressão do presidente para interferir na Polícia Federal; e as provas de que as eleições de 2018 foram fraudadas, conforme ele mesmo denunciou durante viagem aos Estados Unidos em março deste ano.
O vídeo da reunião já era. Foi entregue ao ministro Celso de Melo, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito que apura as acusações feitas por Moro. A resistência foi grande, mas ao final prevaleceu a decisão da Justiça. Resta saber se o país terá acesso a todo conteúdo da reunião ou ela será editada antes de ser apresentada ao público.
Em relação aos resultados dos exames, Bolsonaro conseguiu ganhar fôlego com a liminar do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio Noronha, que suspendeu as decisões judiciais que o obrigavam a entregar os resultados ao Estadão.
O ministro aceitou o argumento da Advocacia Geral da União (AGU) de que “apesar de tratar-se de informação acerca de agente público, não se pode afastar completamente os direitos à intimidade e à privacidade do ocupante de cargo público”.
Em um momento de normalidade o argumento pode até ser válido, mas não em um período de pandemia no qual cerca de 150 mil pessoas já foram contaminadas (dados oficiais, lembrando que é grande a subnotificação) e 10 mil já morreram.
Bolsonaro teme que, ao divulgar os laudos dos exames, seja pego na mentira. Na época tuitou informando que o resultado foi negativo para a Covid-19. Pior do que mentir à nação, o presidente pode ter contaminado outras dezenas de pessoas ao se confraternizar com manifestantes no dia 15 de março, sem qualquer preocupação com a disseminação do vírus.
Ao não revelar os laudos dos exames, a preocupação do presidente certamente não é se alguns dos seus seguidores foram contaminados e até tenham ido a óbito por isso. Afinal, para quem defende torturadores, a morte de mais de 10 mil brasileiros por Covid-19 não significa nada. Mas com as possíveis consequências jurídicas dos seus atos.
A Lei 1.079/50, que define os crimes de responsabilidade do presidente da republica e regula o processo de impeachment, é clara ao afirmar no inciso 7, do artigo 9º, que “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo, é crime de responsabilidade contra a probidade na administração”. Não sou jurista, mas se mentir à nação e colocar em risco a vida da população não é falta de decoro, não sei o que poderia ser.
É sempre bom lembrar que o ex-senador Luiz Estevão teve seu mandato cassado por ter mentido ao parlamento e não pela participação nas falcatruas da construção do Fórum trabalhista de São Paulo, que o levou a passar um tempo na Papuda.
Por fim, resta saber quando Bolsonaro vai entregar as provas, que diz ter, de que houve fraude na eleição presidencial de 2018. A denúncia foi feita por ele mesmo, mas até agora nada de concreto foi apresentado. Duvido que as tenha, mas se tiver, como mandatário máximo da nação, tem obrigação apresentá-las à sociedade.
Bolsonaro mente, agride as pessoas, insulta à população. Seus atos não são compatíveis com os de um de um presidente da República e nem com os de um verdadeiro cristão. Aliás, estão mais próximos do que Jesus Cristo chamou de “sepulcro caiado”, no evangelho de Mateus 23, 27-32.
Para não fugir ao tema bíblico, deixo aqui uma reflexão ao presidente Jair Bolsonaro encontrado em Provérbios 17:7 “Os lábios arrogantes não ficam bem ao insensato; muito menos os lábios mentirosos ao governante!”