Daqui até sábado, véspera da eleição, pelo menos mais 15 pesquisas serão divulgadas. O cardápio tem sido bem variado e a toda hora conhecemos um instituto novo. Deve dar grana, essa atividade. Desde o início do ano, foram registradas centenas e centenas de pesquisas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Fora as pesquisas internas, que são pagas por partidos e candidatos para consumo próprio.
Não desdenho das pesquisas. Tampouco tenho fetiche por elas. Só acho que reduzir o debate, num país com tantos problemas, gargalos, necessidades, é muito pobre.
Deveria ser um ano para que todos – a começar, o que deveria ser óbvio, mas não é, pelos candidatos – se sentassem para buscar caminhos. Entre eles, para a educação, que atingiu tão duramente as crianças e os jovens do Brasil na pandemia; a saúde – incluindo solução para quem paga plano de saúde, que consome, a partir dos 60 anos, quase toda a aposentadoria; a pobreza extrema; os problemas de produtividade da indústria e tantas calamidades passadas e presentes.
Mas não só eles estão sendo discutidos com seriedade e profundidade, com raras exceções, como tem candidato que já se acha eleito e diz que não precisa falar do que pretende fazer. Deve ser um iluminado, não? Mas todos precisamos saber o que cada um pensa. É muito empobrecedor se limitar a índices e estatísticas de intenção de voto.
E as pesquisas se restringem a pouquíssimas questões; basicamente em quem a pessoa vai votar e o que acha de quem está no governo. Institutos e analistas, como bem registrou o professor Carlos Alberto Torres, “tornaram-se como que as pitonisas do Templo do Oráculo de Delfus, onde os gregos iam atrás da previsão do seu futuro”. E dê-lhe discutir quem está em primeiro ou segundo lugar, quem cresceu um ponto ou dois, em qual segmento. E, no dia seguinte, é hora de dedicar muito espaço para analisar… a pesquisa seguinte, do outro instituto, que deu mais ou menos os mesmos resultados.
Se pesquisa fosse algo tão definitivo, não precisaríamos ter gasto tanto tempo em defesa do TSE ou criticando o presidente Bolsonaro quando ele irresponsavelmente ataca as urnas eletrônicas. Seria tão mais simples. Mas não é. Alguns exemplos recentes podem contar o que aconteceu, como o governador Romeu Zema, de Minas Gerais, ou Gilberto Kassab, quando disputou a prefeitura de São Paulo. Ou, pelo lado inverso, o ex-deputado Celso Russomano, também conhecido por cavalo paraguaio, que sempre sai na frente, mas mal termina a corrida.
Hoje mesmo, segundo alguns destes institutos, estamos assistindo a algumas viradas, a pouquíssimos dias da votação. O que torna a pregação do voto útil, única e exclusivamente com base em pesquisas, ainda mais discutível, para dizer o mínimo.
Não se trata de vilanizar as pesquisas, que contam com um índice muito grande de acertos. Talvez, quem sabe, criar algumas regras, a exemplo do que existe em outros países. E, certamente, insistir junto aos colunistas de jornal, analistas, debatedores, editores dos veículos de comunicação, enfim, a todos os que se debruçam sobre eleições tão importantes como as que teremos domingo que vem, que deem às pesquisas seu devido lugar: não as primeiras páginas, as manchetes, as análises diárias com amplos espaços. Mas apenas mais um instrumento para avaliar a quantas anda o humor do eleitor. É pedir muito?