A julgar pelo resultado das eleições parlamentares na última terça-feira (9) em Israel, a paz entre o Estado judeu e os palestinos está cada vez mais distante. Benjamin Netanyahu – do Likud – conquistou 36 cadeiras na Kenesset – parlamento israelense – e conseguirá formar uma coalização com o bloco de partidos de extrema-direita e ultra ortodoxos, o que lhe dará maioria de 65 cadeiras no Legislativo. O seu oponente, o ex-comandante do exército Benny Gantz, da coligação de centro Azul e Branco, obteve 35 cadeiras no legislativo e será oposição.
O Partido Trabalhista, de Shimon Perez e Yitzhak Rabin, que promoveu os acordos de paz de Oslo em 1993, hoje é apenas uma sombra do que já foi. Ficou nanico. Os trabalhistas foram governo nas primeiras três décadas da existência de Israel.
Com a coalizão, Benjamin Netanyahu poderá ultrapassar o tempo que David Ben Gurion governou Israel como primeiro-ministro – 13 anos. Bibi, como Netanyahu é conhecido em Israel, governou ao longo dos últimos dez anos. A maior parte da população acredita que ele conduziu uma transformação no país, do ponto de vista econômico, tecnológico e de segurança.
A conjuntura política que permitiu o avanço da direita israelense ficou estabelecida após o assassinato do ex-primeiro-ministro Yitzhak Rabin, em 1995, e com o fracasso das negociações de paz com os palestinos, no começo deste século – o acordo de Camp David – promovido pelo ex-presidente Bill Clinton, em 2000. Yasser Arafat e o então premiê de Israel Ehud Barak, não se entenderam. O acordo oferecido por Israel era menos do que os palestinos estavam prontos para aceitar.
Troca de anexação por imunidade
A imprensa israelense comenta que após mais essa vitória de Netanyahu os assentamentos judaicos na Cisjordânia serão anexados a Israel. Em troca, Bibi receberia imunidade do parlamento contra acusações da justiça e da procuradoria israelense por corrupção e suborno durante seus mandatos como primeiro-ministro.
Na reta final da campanha, com as pesquisas indicando empate com Benny Gantz, Netanyahu deu entrevista a um canal de TV israelense assumindo o compromisso. O jornal Haaretz publicou uma declaração do futuro líder da coalizão do primeiro-ministro, Bezalel Smotrich, confirmando o acordo. Para garantir uma nova legislação que livre Bibi da justiça, ele quer em troca a “soberania” dos assentamentos judaicos na Cisjordânia.
Donald Trump, que já reconheceu a anexação das Colinas de Golã – território sírio tomado em 1967 – ao Estado de Israel, foi o primeiro presidente estrangeiro a felicitar o primeiro-ministro. O presidente norte-americano disse que a vitória abre a possibilidade de negociação com os palestinos. Em março, o genro e assessor de Trump, Jared Kushner, além de altos funcionários americanos, anunciaram um plano de paz a ser apresentado após as eleições.
Como sempre, aqui faltou combinar com os palestinos. O ponto central desse acordo seria a troca de paz por terras, e isso é fundamental para a Autoridade Palestina, que só controla a Cisjordânia. Saeb Erekat, membro da OLP (Organização para Libertação Palestina) e negociador-chefe para o acordo de paz, disse que “esperar por um acordo Trump, não fará nada além de aprofundar o apartheid de Israel e excluir qualquer chance de uma solução política no futuro.”
De fato, os israelenses terão que definir se continuam pertencendo a um Estado judeu democrático, ou partem para a incorporação completa dos assentamentos judaicos dos territórios ocupados. Nesta última hipótese terá que reproduzir o que ocorria com a África do Sul antes de Nelson Mandela, na década de 1990, onde um Estado segregado, com uma imensa população – neste caso negra – sem direitos civis.
Isso para dizer o mínimo. Os palestinos, tanto da Cisjordânia, como da conflagrada Faixa de Gaza, não aceitarão um acordo desses. Ainda mais depois que os Estados Unidos reconheceram Jerusalém como capital do Estado de Israel e transferiram para lá sua embaixada, além da anexação de Golan.
Entre as reivindicações palestinas para um acordo de paz está o reconhecimento de Jerusalém Oriental, conquistada por Israel na Guerra de 1967, como capital de seu futuro Estado. Querem também que seu futuro país tenha um território contínuo que ligue a Cisjordânia a Faixa de Gaza, hoje separadas por assentamentos judaicos.
* Luís Eduardo Akerman é jornalista e analista de política exterior. Ex-editor de Internacional do Jornal de Brasília.