Dentro de pouco mais de um mês cerca de 140 milhões de eleitores estarão indo às urnas para escolher prefeitos e vereadores dos 5.570 municípios brasileiros. Embora tenha suas peculiaridades em relação ao pleito de 2022 – que vai eleger presidente, governadores e os novos congressistas-, não há como negar que o resultado das urnas este ano vai apontar o caminho para a próxima campanha, sinalizando para que lado os ventos da política estão soprando.
Para o bem ou para o mal, Bolsonaro será o grande cabo eleitoral da campanha deste ano. Goste-se ou não, a popularidade do presidente – alavancada pelo auxilio emergencial e por uma oposição política pusilânime -, tem feito com que muitos candidatos se apresentem como representantes do bolsonarismo.
Esse fenômeno tem crescido especialmente no Nordeste, onde o presidente perdeu em todos os estados na eleição de 2018. Nas visitas à região – que por sinal têm sido frequentes nos últimos meses-, são comuns cenas de aglomerações de pessoas se acotovelando para selfies com o presidente e gritando “mito, mito”.
Claro que nem tudo são flores. Afinal, o governo tem cometido mais erros que acertos e, diante disso, há quem se beneficie das críticas ao presidente. A condução da pandemia, que vitimou quase 150 mil brasileiros em pouco mais de seis meses, é um dos alvos dos candidatos que querem se diferenciar de Bolsonaro. Um dos principais temas debatidos na campanha.
Além da pandemia, os opositores do presidente terão muitos outros temas a explorar na campanha, como, por exemplo, a questão ambiental e os incêndios na Amazônia e no Pantanal. Afinal, meio-ambiente é um assunto que desperta interesse no mundo inteiro e entrou até na campanha presidencial americana.
Mas o assunto que tem gerado mais debate nas redes sociais, sobretudo entre os eleitores bolsonaristas, é a aproximação do governo com o chamado Centrão.
Bolsonaro se elegeu criticando o loteamento dos órgãos públicos que classificou como “velha política”. Hoje, tem entre os principais aliados nomes como Roberto Jefferson, Valdemar da Costa Neto, Ciro Nogueira, Artur Lira e tantos outros conhecidos dos governos anteriores.
O apoio do Centrão ao presidente tem irritado mais a sua base ideológica do que propriamente a oposição, que durante anos esteve ao lado dos integrantes dessa ala para manter a chamada “governabilidade”.
Nas redes sociais a irritação aumentou ainda mais depois da indicação do desembargador Kassio Nunes Marques para vaga do ministro Celso de Melo, do STF, que se aposenta esta semana.
Muitos apoiadores do presidente já manifestaram publicamente o descontentamento com as últimas decisões. Alguns diretamente a Bolsonaro por meio das redes sociais, casos do pastor Silas Malafaia e do “guru” Olavo de Carvalho. Neste domingo, o presidente chegou a ameaçar “banir” um dos seus seguidores, que o questionou em relação à indicação do piauiense para o Supremo.
O fato é que aos poucos Bolsonaro vem abandonando sua base ideológica e se aproximando cada vez mais de um novo eleitorado menos barulhento. Resta saber até aonde o presidente pretende seguir com essa mudança de eleitorado e mais: até que ponto seus eleitores vão abandona-lo sem que outro nome da direta esteja pronto para a disputa em 2022.