Pois é, faz 25 anos que foi lançado o álbum “25 de Dezembro” por Simone Bittencourt de Oliveira. Números cabalísticos à parte – 25 de Dezembro, 1995, 25 anos de lançamento, a cantora aniversaria em 25 de dezembro – o disco foi um grande sucesso.
No começo foi fácil, a música era um hino, uma ode ao Natal. Em todos os cantos, sem trocadilho é claro, cantavam alegremente com Simone: “Então é Natal/E o que você fez?/O ano termina/E nasce outra vez…”. A versão para português de Cláudio Rabello de “Happy Xmas (War is over)”, composta, gravada e lançada no ano de 1971 por John Lennon e Yoko Ono, era imbatível. Não havia rádio que não a tocasse uma dezena de vezes ao dia, não havia loja de discos – sim, naquela época havia muitas lojas de discos espalhadas pelas cidades e em shoppings – que você passasse e não ouvisse a canção.
Tanto o álbum, quanto a faixa de trabalho chegaram ao “top five” das paradas de sucesso – alguma coisa parecida com os ‘trending topics’ do Twitter atualmente. Sucesso que vendeu muito, e bota muito nisso, dizem que mais de dois milhões de cópias até hoje. Já enjoava, na época, de tanto que tocava. Parecia uma trilha sonora chiclete que acompanhava a todos em qualquer hora e lugar.
Com o passar dos tempos, e olha que 25 anos é, segundo quem entende, uma nova geração, a coisa meio que desandou, meio que virou “já é Natal na Leader Magazine”, resultou memes e mais memes. Há um evidente preconceito velado ou não quanto à música. Muito, provavelmente, pela forma massiva que Marcos Maynard, então executivo de markerting da, à época, PolyGram, resolveu divulgar o lançamento.
Todo mundo já sabe, mesmo sendo em novembro ou o mais cedo, ainda que fosse possível, tocou!? O Natal está às portas.
Nada contra Simone, muito pelo contrário, ela foi elogiada por Caetano em sua mais recente live, exatamente por essa música em especial, quando falava da representatividade do Natal em sua vida, mas virou música chiclete, lugar comum, com todo respeito que prevalece quanto a intérprete.
O que realmente mudou nestes 25 anos? É a grande pergunta que não quer calar. Aquela famosa de um milhão de dólares. Fica uma sensação que nada mudou. Fica a esperança de um “novo” também. Porém, o respeito a outrem existe? Somos solidários de fato? Olhamos nossos semelhantes como reais e verdadeiros irmãos? A tal cristandade é de direito verdadeira? Será, realmente, que: “…bom Natal!/Pro branco e pro negro/Amarelo e vermelho/Pra paz afinal…”? Tenho minhas dúvidas, aliás, muitas dúvidas e uma dezena de incertezas.
Parece que em 25 anos regredimos, entramos numa cornucópia da mais valia, do desrespeito, da falta de amorosidade, ética e senso comum. As minorias cada dia passaram a ser mais minorias. Oprimidas, sufocadas, vilipendiadas e, até mesmo, odiadas. Uma roda-viva de incertezas e absolutismo, de insensatez, desesperança e injustiça.
E agora José? E agora você? Você podia ter sido somente carpinteiro na Galileia, podia ter ficado por lá quietinho, mas, para o bem da humanidade, você amou Maria e de Maria veio o Salvador e seu Calix Bento. O Salvador! Simone cantou, e como cantou. Se fizermos as contas, mesmo que de padaria, outrora, escrita no balcão em grafites trás’dorelha, “Então é Natal” já tocou corações e aversões, mais de um milhão de vezes. Não é pouco, não é brincadeira para uma música temática que, ao longo do tempo, se tornou uma chatice ímpar, par, singular, plural, côncava, convexa e por aí vai…
A culpa é da Simone? Claro que não. Ela, apenas, foi o fio condutor, o toque amoroso de que tudo estava fora da ordem. De lá para cá nada mudou, será que algum dia mudará? Será que algum dia escreverei que a paz reina no planeta, que o amor incondicional venceu? Será?
Então é Natal! É Natal… para o ano inteiro, é Natal. Para celebrar a memória viva do amor, da caridade, da benevolência, da humildade, da justiça e da compreensão. É Natal! Gente; é N-A-T-A-L! De amores, de caridade, de companheirismo e de celebração. É Natal simplesmente. Natal é nascimento!
Não quebrem o CD da Simone. Deixem-no guardado por mais 25 anos bem escondido. No fundo do freezer é um bom lugar. Quem sabe, quando alienígenas visitarem – mais uma vez (só para criar polêmica) o planeta Terra, acreditem se tratar de hino revolucionário na marcha contra o opressor.
Será só imaginação?
— Carlos Monteiro é Jornalista