Chocante, macabro, demolidor. Essas palavras podem resumir o depoimento da advogada Bruna Morato, representante de 12 médicos da Prevent Senior que denunciaram os experimentos feitos pela operadora em pacientes com covid por meio de um dossiê entregue à CPI da Pandemia há algumas semanas.
De forma clara e objetiva, a jovem advogada faz relatos impressionantes aos senadores sobre a atuação da operadora. Ele revelou a existência de um “pacto” entre a Prevent Senior e o Ministério da Economia para validar o tratamento precoce com o objetivo de evitar o lockdown e garantir que a economia não fosse prejudicada. O tal pacto teria sido costurado pelo “gabinete paralelo” formado pelos médicos Nise Yamaguchi, Paolo Zanotto, Anthony Wong, este último vítima da covid e do próprio tratamento ao qual defendia.
Embora o ministro Paulo Guedes não tenha sido envolvido diretamente pela advogada, ela relatou que os integrantes do “gabinete paralelo” trabalhavam alinhados ao Ministério da Economia para comprovar a tese da eficácia do “kit covid” – hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina- e da imunidade de rebanho. A ideia era permitir que as pessoas saíssem às ruas sem medo da contaminação pelo vírus. “Seria uma pílula de esperança”, afirmou.
O testemunho da advogada junto com os documentos entregues à CPI, complicaram ainda mais a situação do presidente Jair Bolsonaro. Eles reforçam o entendimento de que a condução da pandemia pelo governo seguiu a orientação de um grupo de malucos — alguns por pura esperteza — querendo comprovar suas teorias usando os pacientes como cobaias, em detrimento das recomendações da OMS. Vidas humanas em troca do crescimento da economia e de lucros para empresas como a Prevent.
O que fica claro a partir dos relatos e documentos enviados à CPI, é que órgãos como o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) fecharam os olhos para o que estava acontecendo na Prevent Senior para que a empresa tivesse segurança em manter o protocolo. Esse caso foi denunciado, mas quem garante que outras operadoras não estejam fazendo a mesma coisa?
Os conselhos federal e regional de medicina também têm sua parcela de responsabilidade e devem explicações à sociedade pela inação perante tantos desmandos.
Em toda essa história quem saiu bem na foto foi o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Além de não aceitar se aproximar dos dirigentes da Prevent Senior, ainda criticou a operadora quando estava à frente da pasta por causa do grande número de mortes na rede hospitalar.
A partir da negativa de Mandetta, Pedro Benedito Batista Júnior, diretor da Prevent Senior que depôs na semana passada na CPI, procurou o pessoal do “gabinete paralelo” para conseguir apoio aos “experimentos científicos” com o chamado tratamento precoce.
As acusações contra a empresa incluem denúncias que vão desde a manipulação de dados, passando por falta de transparência e ocultação de mortes de pacientes que usaram o kit covid. Chocou ainda mais alguns relatos de Bruna Morato sobre procedimentos macabros em algumas unidades da Prevent. Ela afirmou que médicos contaram que 10 ou 14 dias após serem intubados pacientes passavam a receber menos oxigênio:
— Esses pacientes, segundo informações dos médicos, evoluiam para óbito na própria UTI. Então você tinha uma liberação de leitos. A expressão que ouvi muitas vezes utilizada é: óbito também é alta.
Outro relato impressionante foi sobre o tratamento paliativo, usado em pacientes com doenças terminais como câncer em estágio avançado. De acordo com a advogada, houve um “desvio de finalidade” nesse tipo de procedimento por parte da empresa.
“As famílias não tinham conhecimento que o paliativo é você permitir ou você deixar que esse paciente evolua para óbito conectado com uma bomba de morfina ou a outros tratamentos sem a possibilidade de reação. Esses pacientes eram viáveis e, se tratados, poderiam sobreviver”, contou.
O nome disso é eutanásia e essa prática não é permitida no Brasil. Quem vai responder?