Nada mais cafona que a ostentação, ainda mais quando a pavonada parte de um representante do povo. A foto do deputado Eduardo Bolsonaro fantasiado de sheik em Dubai, ao lado da esposa Heloisa e da filha, publicada em uma rede social neste fim de semana, é a cara do governo Bolsonaro: brega, de mau gosto e afrontoso. A cafonice da imagem vai além das roupas, da maquiagem e da pose. Ela está no negacionismo, na ignorância, na mentira e na falta de respeito ao próximo por parte dos atuais governantes.
O retrato, de acordo com o site Congresso em Foco, custou quase mil reais. A imagem mostra que todos já sabíamos, a família presidencial não perde uma oportunidade de passar vergonha publicamente. O mais engraçado é que o deputado garante que a viagem dele, da esposa e da filha à Dubai não custou um centavo aos cofres públicos. Mas no mesmo texto, publicado em suas redes sociais, se contradiz ao afirmar que foi representando a Frente Parlamentar Brasil-Emirados Árabes.
Neste caso tem sim dinheiro público envolvido. Afinal, se viajou como representante de uma frente parlamentar, foi como deputado e os custos devem ter sido pagos pela Câmara Federal. Nada que uma visita ao Portal da Transparência não responda.
A comitiva do Brasil à Expo Dubai 2020 (adiada por conta da pandemia) por si só já representa uma afronta a todos nós contribuintes. O Executivo autorizou a ida de 69 pessoas para participar de feiras e exposições na cidade a um custo que deve chegar a R$ 3,6 milhões.
A viagem foi definida pelo deslumbrado secretário da Pesca, Jorge Seif, como “trabalho-passeio”, “top demais”. Enquanto isso, o governo veta a distribuição de absorventes para mulheres de baixa renda alegando “falta de recursos”.
Bolsonaro e seus filhos elevaram a cafonice ao patamar máximo. O senador Flávio Bolsonaro ostenta sua mansão de R$ 6 milhões – provavelmente fruto das rachadinhas em seus gabinetes parlamentares – e quer fazer acreditar que sua lojinha de chocolate financia tudo. Jair Renan, o 04, faz lóbi descarado, e se muda para mansão em Brasília.
A cafonice da família Bolsonaro conseguiu superar até os áureos tempos de Collor de Mello, e sua mulher Rosane Collor com seus indefectíveis sapatinhos cobertos com o mesmo tecido do vestido. A embaixatriz Lúcia Flecha de Lima contava que em uma recepção na visita do príncipe Charles ao Brasil, a princesa Diana, mesmo sendo uma pessoa discreta e educada, não se conteve ao ver o look de Rosane Collor e soltou um Oh my God!
Sem querer justificar as roupas cafonas da ex-primeira-dama, mas Rosane, embora de família rica, era uma jovem de 20 e poucos anos, nascida no interior de Alagoas, um dos estados mais pobres do país, numa época em que não existia internet e a informação era escassa. Heloisa e Dudu Bananinha nasceram no Rio de Janeiro, uma cidade que para o bem e para o mal influencia o país na moda, nos costumes e na cultura.
A escritora e roteirista Fernanda Young, em sua última coluna publicada um dia depois da sua morte, em agosto de 2019, falou sobre a cafonice que tomou conta do país. Em um dos trechos, ela sentencia: “O cafona quer ser autoridade, para poder dar carteiradas. Quer vencer, para ver o outro perder. Quer ser convidado, para cuspir no prato. Quer bajular o poderoso e debochar do necessitado. Quer andar armado. Quer tirar vantagem em tudo”.
Dois anos depois o texto de Fernanda continua mais atual do que nunca. Que tristeza!