Preocupado com provável derrota na tentativa de reeleição, quase a antevendo como inevitável, Bolsonaro reforça sua estratégia para derrubar o pleito digitalizado, responsável há 26 anos pela excelência das eleições brasileiras, a partir de então imune a fraudes. O hoje motoqueiro foi eleito porque, graças a tal modernidade, as trapaças desapareceram das eleições. Agora apavorado, a ele interessa justamente a eleição antiga, com o voto impresso, quando ganha quem pratica mais irregularidades. É o seu caso.
Lá vai ele trôpego, desarvorado, caprichando nos insultos aos membros dos Poderes de uma república democrática. Já disse três vezes que se não for como ele deseja, não haverá eleições. Falta ter coragem de dizer o que vai acontecer, o que pretende fazer ou se, por acaso, nossas eleições vão depender de seu caráter doentio. Ou ainda se, simplesmente, ele terá coragem de cancelar as eleições. Os brasileiros, salvo seus fanáticos apoiadores, estão saturados das grosserias do capitão, desovado pelo Exército e acantonado no Congresso, onde jamais fez algo de útil.
Estranho personagem que tenta desestabilizar o Brasil, já tendo adotado várias iniciativas nesse sentido. Insulta a todos, brinca com a covid, extingue um ministério, cria outro, junta parlamentares para um centrão de serviços ou para negociar vantagens em negociações do governo com o grupo.
Caçador de fantasmas comunistas, mentalidade retrógrada, tal personagem apresenta sinais de instabilidade emocional em falas e atitudes. O desespero diante da eleição de 22 o leva aos absurdos que tem proclamado, no sentido de se precaver contra a perda da chefia do governo, se derrotado na tentativa de reeleição.
Gradativamente o motoqueiro amplia seu estoque de grosserias e insultos contra as autoridades da República que refutam seus ataques, podendo a situação ficar insustentável. Os militares, que hoje ocupam grande parte de seu governo, voltam progressivamente a participar da política, ao invés de manter suas atividades tradicionais na caserna. Supõe o motociclista messiânico que disporá de apoio militar para uma eventual tentativa de golpe, como a que parece organizar para evitar o voto eletrônico.
Fatos indicam que tal perspectiva será de difícil concretização. Não há motivo para o capitão da reserva se achar em condições de permanecer no cargo mais um mandato. As pesquisas de opinião indicam isso. O piloto motoqueiro não sente ameaças aos projetos absurdos que vai desenvolvendo.
Praticamente declarou guerra ao Judiciário e insulta com o palavreado mais reles possível os integrantes do STF. Adota, nesses casos, comportamento próprio de elementos moralmente desqualificados. Algo como uma molecagem. Com isso amplia a suspeita da sociedade pelas suas intenções.
Quando concluir seu projeto de realizar exibições de motocicletas nas principais cidades do país, cada vez levando um ministro na garupa, o falso messias estará acreditando que sua missão foi cumprida e lhe basta aguardar o resultado das eleições.
Se for pelo pleito eletrônico, saberá em poucas horas que é tempo de voltar para sua casa, ou para de onde saiu. Acabou a farra. Se for pelo pleito antigo, que ele chama de voto auditável, dez meses depois saberá o resultado da eleição. Em ambos os modelos estará sendo convidado pelos (as) brasileiros (as) a voltar para sua casa, ou para a mansão de seu rebento senador.
— José Fonseca Filho é Jornalista.