“Senhores, somos governados pela infecção”. (Rui Barbosa)
Acredito que as eleições de 2022 serão as mais acirradas desde 1989, quando Fernando Collor suplantou 24 candidatos no primeiro turno, alguns de peso como Ulysses Guimarães, Luiz Inácio Lula da Silva, Aureliano Chaves, Leonel Brizola, para, na segunda rodada de votação, derrotar Lula por larga margem de votos.
Para a presidência da República não existem eleições fáceis. O prêmio ao vencedor será tão substancioso quanto a crise que herdará. Assumirá o comando de país dividido por paixões políticas, rivalidades pessoais, obstáculos econômicos, descrédito internacional, conflitos sociais, gigantesco desemprego e enorme abatimento moral.
Apesar da importância da disputa, cujos resultados definirão os destinos do País, parcela considerável da população com direito a voto permanece distante, calada, absorvida pelos problemas do dia a dia. O presidente Bolsonaro renegou a promessa feita em campanha de não tentar a reeleição. Promessa de candidato, entretanto, só compromete a quem escuta. Lançou-se na campanha no primeiro ano do mandato fazendo da reeleição a preocupação dominante dos últimos dois anos,
A força de Jair Bolsonaro reside na debilidade das oposições.
O PSDB, outrora a esperança de renovação e de modernização das práticas políticas, começou a definhar a partir do segundo mandato do presidente Fernando Henrique, assim como o PMDB entrou em queda livre com o Plano Cruzado II e o PT após a vitória de Dilma Rousseff. Estarei enganado?
O MDB é a sombra do que foi o PMDB em 1985/1986, com a vitória de Tancredo Neves-José Sarney no Colégio Eleitoral. O PT vive na dependência de Lula e o PSDB de Fernando Henrique Cardoso. Ao PT resta algo do capital político acumulado nos doze anos que esteve tranquilo no poder. Patrimônio que se esvai à medida em que o tempo passa, a idade do candidato pesa, o discurso se torna repetitivo e começa a enfadar.
Ser apolítico (expressão dicionarizada) é uma espécie de doença, de religião ou mero pretexto para quem não deseja se envolver. O alistamento eleitoral e o voto não resultam de decisões espontâneas, livres, conscientes. São obrigatórios por norma constitucional (art. 14, § 1º, I). Boa parte do eleitorado reage permanecendo alheio às questões da política. Disso se prevalecem demagogos e populistas para se infiltrarem à procura do voto gratuito, alienado, não comprometido e descompromissado. É frequente se ouvir entre parentes, amigos e conhecidos que não se lembram em que votaram nas eleições passadas.
Modelo de resposta evasiva a pergunta política foi dada pelo economista Pérsio Arida, um dos autores dos planos Cruzado I e Real. Entrevistado por Sonia Racy, de O Estado de S. Paulo (24/11), lhe foi perguntado por que o Brasil “encalha sempre nos mesmos desafios nas esferas da infraestrutura, educação e saúde”. Respondeu o ilustre professor, como o faria o conselheiro Pacheco, personagem célebre de Eça de Queiroz: “É uma questão difícil de responder, profunda e ao mesmo tempo complexa”.
Semelhante escapismo é utilizado por parte das classes privilegiadas, quando fingem desconhecer as raízes do nosso atraso. Se renomado intelectual se furta a responder pergunta elementar, o que esperar dos integrantes das denominadas classes C e D. A mesma questão, entretanto, submetida a mulher ou homem do povo receberia resposta curta e grossa com uma única palavra: corrupção, a “enfermidade moral que se alastra penosamente esterilizando tudo por onde passa”, como pregava o Pe. Vieira.
O dinheiro é o nervo da guerra, diz o adágio popular. Da guerra e da política. Antes de registrar o voto na urna eletrônica o cidadão deverá consultar a consciência para decidir a quem entregará o dinheiro do Tesouro Nacional e o comando supremo das Forças Armadas. Afinal, a isso se reduz no Brasil a tarefa de governar.
A Lula? Bolsonaro? Moro? Ciro Gomes? Doria? Simone Tebet? Datena? Cabo Daciolo? Rodrigo Pacheco? Se errar na escolha, não se queixe depois da corrupção, da ignorância, da incompetência, da boçalidade, do autoritarismo.
Afinal, se alguém chega à Presidência da República no regime democrático não é pelo golpe, mas pela eleição.
* Almir Pazzianotto Pinto é advogado. Foi ministro do Trabalho e presidente do TST (Tribunal Superior do Trabalho)