O senador Renan Calheiros é conhecido pela capacidade de se reinventar. Como uma fênix, sempre se renova após enfrentar adversidades políticas. Há pouco mais de dois anos, após a derrota para Davi Alcolumbre na disputa pela presidência do Senado, muitos acharam que ele estaria politicamente morto e que seria apenas mais um a circular como um zumbi pelos corredores do Congresso.
Ledo engano. Mais uma vez, Renan soube submergir e voltar na hora certa. Trabalhou nos bastidores e conseguiu um palco tão importante quanto a própria presidência do Senado: a relatoria da CPI da Covid.
Está certo que o mérito pelo retorno de Renan à ribalta é muito mais da incompetência do governo e a sua falta de bons nomes dentro do Senado para enfrentar a oposição do que propriamente pela competência do alagoano. Mas temos que admitir que foi uma jogada de mestre do MDB indica-lo para relator da CPI mais importante desde a comissão parlamentar dos Correios que investigou o mensalão, em 2005.
Experiente, Calheiros não vai deixar passar a grande chance de retomar seu lugar ao sol. Ele não está pensando em garantir benesses a curto prazo, como um carguinho aqui ou uma emenda parlamentar ali. Sua meta é mais ambiciosa, vislumbra 2022, quando poderá ser peça chave para a eleição presidencial.
Para isso, seu foco será a atuação de Bolsonaro e do obediente general Pazuello na condução da pandemia. A investigação deve girar em torno dos absurdos promovidos pelo presidente como aglomerações, gastos com remédios sem eficácia comprovada, falta de oxigênio no Amazonas e falta de vacinas. Ao contrário do que o governo deseja, governadores e prefeitos devem ser poupados. Mas uma coisa é certa, o relatório não terminará em pizza.
Renan já mandou seu recado na estreia da CPI. Disse ser “impossível esquecer todos os dias fúnebres em mais de um ano de pandemia, mas é impossível apagar abril, o mês mais mortal e o dia 6 de abril com 1 morte a cada 20 segundos. Esses números superlativos merecem uma reflexão, merecem um minuto de silencio”.
A comissão, instalada hoje, já produziu o primeiro milagre. Fez o senador Flávio Bolsonaro, o 01, contrariar as posições do pai e defender o isolamento social, alertar que o agrupamento na CPI poderia provocar novos casos e mortes — até seria trágico se não fosse tão cômico na boca de um membro do clã Bolsonaro. Foi mais um gol contra que o relator não deixou passar em branco.
Renan Calheiros nunca foi santo. Representa o que há de pior na política. Não fossem os amigos do Supremo, certamente teria amargado uns dias na prisão como o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Possui os inúmeros inquéritos nas costas.
Contudo, os desmandos de Bolsonaro são tantos, não apenas na condução da pandemia, mas do próprio país, que Renan transformou-se em herói nacional.
A conferir.