Depois de um recesso de quase 14 anos na oposição, durante a era petista, o DEM voltou ao governo no governo Michel Temer, com apetite para crescer. A bancada do partido passou de 27 para 43 deputados, e a presença de Rodrigo Maia no comando da Câmara recolocou a legenda no centro do poder.
Nas eleições, 29 representantes foram eleitos para a Casa, e a aposta em Geraldo Alckmin teve em ACM Neto um importante fiador, como líder da aliança do centrão em torno do tucano. Deu errado. Após o primeiro turno, Neto foi o primeiro presidente de partido político a declarar apoio a Jair Bolsonaro, opção que boa parte da bancada já defendia, ainda que de forma envergonhada, agora natural, diante do adversário petista.
Passada a eleição e com o início da transição, o DEM já tem reservadas três vagas na Esplanada – a casa Civil, com Ônyx Lorenzoni, a Agricultura, com Tereza Cristina, e a Saúde, se prevalecer a indicação do deputado Luiz Henrique Mandetta. Mas nada indica que a sigla terá, de forma institucional, papel relevante no novo governo. Em outras trocas de guarda no Planalto, uma reunião do presidente eleito com os presidentes dos partidos era praxe na agenda do eleito. Não com Bolsonaro. Até aqui, o futuro presidente parece ter escolhido como interlocutores as chamadas bancadas setoriais, que reúnem representantes de interesses econômicos ou corporativos específicos.
Elas abrigam parlamentares das mais diversas tendências, e, assim, tudo indica, Bolsonaro pretende compor maiorias eventuais para governar. O exemplo mais claro é a escolha de Tereza Cristina para ministra. Ela preside a Frente Parlamentar da Agricultura, e seus compromissos com o setor são muito mais fortes que seus laços partidários.
É cedo para saber se o modo Bolsonaro de governar terá sucesso, mas o enfraquecimento dos partidos políticos já é realidade. Historicamente, o colégio de líderes, na Câmara e no Senado, eram as instâncias de decisão que guiavam o comportamento dos partidos nas votações. Apenas possíveis dissidentes mereciam tratamento especial. Esse processo, no entanto, já vinha mostrando sinais de debilidade.
Para o ex-ministro e ex-deputado Nelson Jobim, hoje ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, o marco é a eleição de Severino Cavalcanti para presidente da Câmara. A partir daí, diz ele, o sistema perdeu a funcionalidade, e as negociações passaram a se dar no varejo. Um sintoma disso é que hoje os nomes dos líderes dos partidos sequer são lembrados.
O DEM de ACM Neto e Rodrigo Maia esperava encarnar o papel de “fiador da governabilidade”, tantas vezes ocupado pelo velho PMDB. Bolsonaro está minando essa expectativa. Se for bem sucedido, os partidos políticos, já abalados por escândalos e crises de identidade, podem se tornar nada mais que veículos para a chegada aos postos eletivos. O PSL do presidente eleito está aí para comprovar a hipótese.