A sociedade em que viverão nossos sobrinhos-netos terá muito a ver com a educação que lhe dermos atualmente. Não nos iludamos, o futuro parece nublado.
Diversos grupos americanos estão interessados na liberação de cassinos no território brasileiro. Os jogos de azar são proibidos no país desde 1946, quando o então presidente Eurico Gaspar Dutra afirmou que a “tradição moral, jurídica e religiosa” não combinava com a prática, além de considerá-los “nocivos à moral e aos bons costumes”.
O turista brasileiro deixa cerca de U$ 32 mil (cerca de R$ 175 mil) nos cofres dos cassinos em Las Vegas. No final do mês passado, o assunto loteria (leia-se loteca) no Brasil passou a ser um dos assuntos do hemisfério ocidental na capital americana.
A loteca foi regulamentada pela ditadura militar em 25 de março de 1970.
Os cientistas políticos não entendem por que os brasileiros aventam a sua história com tanto descaso? A quem interessa um país sem memória? “Um povo que não conhece seu passado, que não compreende suas referências e suas origens, perde a oportunidade de reformar seus desacertos históricos e não é capaz de trilhar seu caminho a um futuro de respeito aos direitos humanos e à democracia.”, frisava Alfred Stephan, o “brazilianist ”mais respeitado na comunidade internacional.
Americanos relembram a história brasileira.
A história do país de Flávio Koutzii, Flávio Tavares e de Flávia Schilling continua a ser uma historieta de apagamentos e silenciamentos.
Há 39 anos, a revista Placar chegava às bancas para entrar na história do jornalismo brasileiro. Doze páginas de nitroglicerina pura sobre um escândalo gigantesco, abarcando mais de 125 nomes de árbitros, dirigentes, técnicos, personalidades nacionais e jogadores – entre os quais, infelizmente, figuram ídolos da torcida e dois campeões mundiais.
Juízes e atletas corruptos forjavam resultados para serem beneficiados na loteria esportiva. A matéria assinada pelo tarimbado Sérgio Martins escancarou o que viria a ser conhecido como “Máfia da Loteria”, mas ninguém foi indiciado ou punido . A revista acabou sofrendo um prejuízo grande com os processos e indenizações.
O único punido foi o delegado da Polícia Federal João Ricardo Lousada – o encarregado do inquérito. Lousada, na época o único doutor em Direito Penal entre o quadro de funcionários da Polícia Federal (PF), tinha um longa folha de serviços relevantes prestados à sociedade brasileira. O delegado foi responsável por nada menos que dez processos contra o governo federal, em plena vigência dos atos institucionais, por abuso de poder – e ganhou oito.
O delegado da PF morava numa quitinete na Avenida Santa Clara, esquina com a Rua 5 de Julho em Copacabana – a poucos metros do luxuoso apartamento do Heitor Aquino Ferreira, um dos bruxos da ditadura militar.
Lousada, respeitado e venerado pelos antigos agentes da Polícia Federal, pagava do próprio bolso as despesas de passagens aéreas e diárias de hotéis para manter o inquérito em andamento.
Às vésperas de indiciar “40 cidadãos brasileiros”, o delegado foi afastado do caso. Diante do desfecho da “Máfia da Loteria”, poucos importavam os reais motivos que fundamentaram a decisão dos caciques de Brasília. A essência é que, ao afastá-lo das investigações, diversos habitantes do Palácio do Planalto deram o palpite que não haveria “zebra” no inquérito.
Os implicados na “Máfia da Loteria” tinham bons motivos para tirar de cena o honesto e zeloso delegado.
Lousada, um mineiro de Juiz Fora, veio a falecer poucos anos depois do seu afastamento do inquérito. “Mesmo apartado das investigações, o doutor Lousada sofreu inúmeras perseguições dentro e fora da agência. Ele morreu de tristeza”, desabafou um aposentado agente da Polícia Federal.