Nossos dias

Hoje é tudo muito fácil.

Um jornalista não precisa mais investigar, basta ele agir como assessor de imprensa do Ministério Público. No passado, alguns eram porta-vozes dos governos militares, hoje alguns são porta-vozes de procuradores.

Muitos delatores não precisam apresentar provas, basta apenas dizer que fizeram isto ou aquilo para um acusado. Ou delatar que ouviu dizer ou soube disso ou daquilo. Basear-se nesse tipo de provinha também torna muito cômoda a vida de procuradores divinos.

Para estes, basta a vontade de denunciar alguém e conseguir unzinho que atenda seu desejo. E se alguém desmentir esta delação, seu testemunho não é considerado verdadeiro. Isso vale para procuradores e para juízes de primeira, segunda e terceira instâncias. Devem ter se inspirado em tribunais militares.

Mas no caso de agora, estes juízes decidiram se curvar à turba e se venderem como bonitinhos. Decidiram deixar a lei e o devido processo legal para seus sucessores. Para eles, se trata de um fardo que deve ser descartado. E se agarram em filigranas.
Durante muito tempo a imprensa tradicional combateu a imprensa sensacionalista ou a imprensa marrom. Hoje parece que ela aderiu às manchetes garrafais. A verdade é que ao não investigar se todas as acusações e informações são pertinentes, antes de publicá-las, acabaram facilitando a vida dos produtores de Fake News.

Como combater esta praga se muitas vezes a adotam em seu trabalho. E, cá entre nós, aqueles marqueteiros e especialistas em produzir mentiras são muito mais competentes do que sisudos e empapuçados jornalistas que se consideram portadores dos desígnios dos céus.

Cientistas políticos taxados de competentes — por si, parentes e corriola — anunciaram uma nova era na política. Minha nossa. Basta assistir uma sessão do novo Congresso para verificar o quanto regredimos. A demagogia é moeda corrente. O cinismo virou voz corrente. O besteirol tomou conta das tribunas.

Parlamentares se jactam de seus votos serem comandados por robôs. Desculpe. Eles dizem que é o público das redes sociais. Essa mesma ladainha é saudada pela imprensa. E viva os robôs. Repórteres e editores também desconhecem os robôs. O jornalismo investigativo não trata do assunto. Afinal, isso requer muito trabalho, muito conhecimento e muita inteligência.

É nessa mata daninha que caminhamos e precisamos desbravar.

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