O presidente da República não foi eleito para governar, tem a pior aprovação da história, já escapou de duas denúncias de corrupção, e pode vir mais uma por aí. O país sabe que é preciso fazer reformas, mas não acredita que elas sairão de um governo morto-vivo. Nada anda. O favorito para ocupar a cadeira assombrada está condenado à prisão, espera mais sentenças, pode ser preso ou ficar inelegível. O Supremo Tribunal Federal, último recurso, trocou a liturgia da sensatez pelo vedetismo pornográfico, abandonando o país à sensação de desproteção. Quanto ao descrédito do Legislativo, os senhores congressistas bem sabem que dispensa comentários.
No vazio de homens e ideias, 2018 desponta como o ano mais importante das nossas vidas desde 1989. A eleição presidencial pode baixar a bola e recomeçar o futuro. Mas também pode acabar nos ensinando que, em três décadas, o país nada aprendeu. Naquele ano, Fernando Collor foi eleito como caçador de marajás e corruptos. Engatinhávamos. Não sabíamos votar, e era perdoável acreditar que um herói surgido do nada pudesse conduzir o país a um porto seguro sem ter partido ou propostas além do mimimi do senso comum.
Foi assim que o neófito Partido da Reconstrução Nacional (PRN) humilhou nas urnas líderes como Mário Covas, Ulysses Guimarães e Leonel Brizola. Quem tinha 18 anos e experiência zero naquele ano terá 47 em 2018. Se agir como adolescente agora de novo, poderá dar marcha-à-ré no país até o desastre de 1990.
Os partidos, o Congresso, o Supremo, os meios de comunicação e todas as instituições da sociedade democrática hesitam em interromper a ópera bufa aberta em meio aos atos de 2013. Entre outros legados, aquela revolta sem bandeiras, o grito do “novo” contra tudo e contra todos, tirou do armário grupelhos fascistóides e paneleiros haters que hoje brincam de lançar nomes para governar o país como se uma das maiores economias e democracias do planeta fosse uma ilha de fantasias e bananeiras.
Não é razoável que o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, que deu o tiro de prata na inflação e promoveu uma inédita estabilidade democrática, continue expondo as vísceras nessa queda de braços adolescente e desprovida de questões programáticas. Ou, pior ainda, tentando tirar mágicos da cartola a menos de um ano das eleições. É pouco crível que o PT, com 14 anos de Presidência nas costas, que chegou a ser farol mundial no combate à miséria, não tenha aprendido a fazer alianças e a sinalizar ao eleitor algo muito além da revanche e do culto à personalidade.
O Brasil, à deriva, parece derreter diante do banditismo, da desesperança e da zorra total de suas instituições mais altas. Perto das possibilidades que andam aparecendo para as eleições do ano que vem, a tragédia de 1989 é pinto.