Só falta a Polícia Federal instalar em sua estrutura operacional o Departamento Especial de Combate às Rachadinhas, com jurisdição sobre o Senado e a Câmara dos Deputados. A perspectiva seria de muito trabalho pela frente, envolvendo autoridades em um novo tipo de crime fiscal, denominado popularmente de rachadinha.
A prática, criada e desenvolvida no Brasil, começa a ser difundida para outros países, motivando a participação da Interpol. Alguns de seus agentes farão cursos de aprendizagem em casas legislativas brasileiras, pelo ineditismo do tema. O FBI e a Scotland Yard demonstram surpresa com a inovação e acreditam na correção parlamentar em seus países, mas acham que a ideia criativa pode suscitar imitações.
No Brasil ainda não se sabe o que fazer, senão aguardar a delação das vitimas. Ocorre que os primeiros casos por aqui foram com autoridades parlamentares, embora não mereçam a designação. Envolvidos dois filhos da linhagem do presidente Super Zero, um senador e outro vereador, todos se apresentando como absolutamente inocentes. O mais recente predador presidiu o Senado e ainda é senador. Todos juram, mas juram mesmo, desconhecer os fatos.
Pelo ato em si, não daria mesmo para acreditar em tal crime: contratar um funcionário e ficar com a maior parte do dinheiro que ele receberá como pagamento. Maldade, tomar o dinheiro dos pobres. No caso, inédito na cultura política, há bandidagem dos dois lados: de quem paga, depois toma, e de quem aceita participar. Só um desistiu, até agora: “Pô, paga 10 mil e me toma 9 mil, assim é safadeza. Tem que ser meio a meio”.
Pelo visto, surgirão novas regras. Como está, realmente não é justiça social. Trata-se de bandidagem oficial, praticada por quem já tem muito dinheiro contra quem não tem nada. Este novo evento envolvendo um senador surpreendeu mais pelas provas apresentadas e pela reclamação de uma mulher que gritou histericamente: “Não vou devolver zorra nenhuma”. Devia reclamar oficialmente ao Procon. Prometeu, paga.
E o castigado povo brasileiro sem dinheiro, sem alimentos, sem casa, sem educação, catando resto de comida em caminhão de lixo. Tomaram-lhe inclusive os trocados que o Lula deu no Bolsa Família, mas vem aí o substituto, com nome novo e mesada maior. Tomara que funcione, mas economistas dizem que se der muito ao povão sofrido vai faltar dinheiro para pagar as contas do país.
Surgiu assim, após as rachadinhas, a figura do fura-teto, que na prática significa gastar o que não tem. Tanto as pessoas como o país. É como doar sem ter recursos disponíveis: o governo promete gastar mais para atender os necessitados, sem ter de onde tirar o dinheiro. Os necessitados, desta forma, continuam necessitando, e o governo devendo ainda mais.
Especialistas revelam que a rachadinha já se disseminou em vários Estados, e em muitos casos a relação entre doador e tomador – que são as mesmas pessoas – se desenvolve em harmonia. Breve, tornada oficial a ação gradativa do sistema, especialmente pelos políticos, a relação entre doador e tomador será estabilizada.
E o Brasil, que já ostenta tanta bandalheira, ganhará mais um título: será o país das rachadinhas. Os ricos da política dão dinheiro público aos pobres ou aos membros da quadrilha. Mas só se o recebedor devolver, pelo menos, metade da grana recebida.
— José Fonseca Filho é jornalista