Desta vez, nem se tratou de concordar, apoiar ou discordar. O comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, não tinha outra opção senão a de entregar a cabeça do verborrágico general Antonio Hamilton Martins Mourão que em palestra a convite do grupo Terrorismo Nunca Mais (Ternuma), no Clube do Exército há dois dias, elogiou a pré-candidatura presidencial do deputado e capitão da reserva do Exército Jair Bolsonaro (PSC-RJ), voltou a defender a intervenção militar como solução para a crise política e afirmou que o presidente Michel Temer faz do governo um “balcão de negócios” para se manter no poder.
“É reincidente. Não há outra alternativa”, comentou um dos generais da reserva que apoiaram Mourão quando, em setembro, ele defendera a intervenção militar em uma palestra na Loja Maçônica Grande Oriente, também em Brasília: “Ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso”, afirmou daquela vez.
A solução para Mourão foi dada em 24 horas, tempo gasto em decidir que ele seria destituído do cargo de secretário de Economia e Finanças do Comando do Exército e avisar-lhe que seria despachado para a Secretaria-Geral do Exército. E não tinha como ser diferente. Mourão se tornou um problemaço na Força, onde é cada vez maior a insatisfação com a crise econômica e com a situação política.
Basta consultar as redes sociais frequentadas ou mantidas por militares para ter certeza de que o clima está muito ruim e que há uma busca ansiosa por candidatos que representem esse pessoal. Haja visto também o apoio que Bolsonaro vem tendo inclusive entre oficiais que até um tempo atrás olhavam com desdém para as ideias e o discurso do capitão/deputado.
Pessoas que conhecem o general Mourão – que ao Estadão/Broadcast disse que suas declarações são mal interpretadas e que seu afastamento do cargo era uma “movimentação normal” – observam que ele está não com um, mas com os dois pés no palanque. Portanto, essas mesmas pessoas não acham que sejam impensados os discursos dele. A menos de quatro meses de entrar para a reserva, Mourão só está semeando palavras para colher votos em outubro de 2018.