“REGINA ( para o Presidente): – O convite que me trouxe até aqui falava em porteira fechada, carta branca. Não vou esquecer, hein?
PRESIDENTE (endereçando-se à Secretária, mas em alto e bom som): – Regina, todos os meus ministros também receberam seus ministérios de porteira fechada. É o linguajar político, ou seja, eles têm liberdade para escolher seu time. Obviamente, em alguns momentos eu exerço poder de veto…”
A nova Secretária de Cultura, Regina Duarte, ex-“Namoradinha do Brasil”, hoje serviçal do Palácio do Planalto (como demonstrou ao bater continência para o Presidente da República), já havia feito ao microfone todas as caras e bocas, todos os gestos teatrais de quem, mais que tudo, sabe os trejeitos que seduzem telespectadores cansados, anônimos e boquiabertos diante da personagem central da novela das oito.
(Pano curto – eu escreveria, se estivesse compondo uma peça de teatro. Bom teatro, como o distinto público brasileiro deveria merecer.).
Acontece que o Chefe dela, (no novo organograma da Presidência da República) impassível, braços cruzados à frente do corpo, como manda o cerimonial aos que comparecem a essas chatérrimas encenações com que os Presidentes da República dão posse a seu primeiro escalão (ou segundo, conforme a ignorância do homenageado…), Marcelo Álvaro Antônio, Ministro do Turismo (e “do Laranjal”), em silêncio ficou e em silêncio deve ter se retirado.
Longe dali mas diante também das Câmaras de TV, o senador Flávio Bolsonaro, abraçado ao Presidente da Embratur, já havia anunciado o que há de vir: a ilha de Fernando de Noronha será convertida em balneário para cruzeiros de turismo, realizando assim (embora noutra Praça) o que seu pai, o Presidente, já havia de há muito anunciado aos quatro ventos para Angra dos Reis: seu governo vai transformar os pontos turísticos mais afamados do Brasil em novas Cancuns. “Ao inferno com a proteção do meio-ambiente”, teria Bozo, em quadrinhos, anunciado no WhatsApp a seu “Ministro das Árvores”…
Bingo.
Revista semanal, lida com sossego no mar de chuvas que (sic) assola o país, havia apresentado na semana do Carnaval, os projetos de Gilson Machado Neto, presidente da Embratur, mergulhado como novo Tio Patinhas em seu bilionário orçamento: o programa do órgão, sujeito ao Ministério do Turismo, vai exaltar as “maravilhas exóticas nacionais” reintroduzindo “o mito do bom selvagem” e banalizando “a cultura” (Isto É, 26/16, 4/3/2020).
Isto é, muito show à la Carmen Miranda nas “arenas do Brazil “, parques temáticos com o Palácio do Planalto e os dragões da Independência, dentre outras atrações, de muita publicidade nos jogos da NBA (jogos de basquete nos USA) e NFL (jogos de futebol americano).
Enquanto o orçamento da EMBRATUR saltou de US$ 8 milhões para US$ 120 milhões (mais de meio bilhão de reais) a serem rateados entre estes e outros projetos culturais mirabolantes, a ex-Viúva Porcina resolve de novo encenar a personagem da que “foi sem nunca ter sido”, prometendo correr o chapéu para bancar as iniciativas de sua Pasta (sic)… como Secretária da Cultura de um governo sem nenhuma cultura… já que seu orçamento não passa de R$ 2,2 milhões!
Agora entendi por que a Cultura foi parar no guarda-chuva do Ministério do Turismo.
Bobo é quem pensa que o Bozo é burro!
* Sandra Starling é advogada e mestre em Ciência Política pela UFMG