Esta semana foi comemorado o Dia Internacional da Mulher e, embora reconheça que conseguimos avançar em alguns pontos nas últimas décadas, acontecimentos recentes mostram que não chegamos nem na metade do caminho na luta pela igualdade de direitos. Nós mulheres ainda enfrentamos inúmeras dificuldades seja em relação ao mercado de trabalho, no combate à violência doméstica, ou na baixa ocupação dos espaços decisórios do poder.
O caso com maior destaque na mídia nacional e internacional nos últimos dias em relação às mulheres foi a repugnante fala do deputado Artur do Val, conhecido pela alcunha de “Mamãe Falei”, a respeito das refugiadas ucranianas. Não é a primeira vez que um deputado da Assembleia Legislativa de São Paulo dá mal exemplo e se mostra abusivo. Não podemos esquecer o deputado Fernando Cury apalpando no meio do plenário a colega Isa Penna. Um absurdo punido apenas com suspensão.
Infelizmente a asneira verbalizada pelo tal “Mamãe Falei” foi apenas mais um entre tantos episódios de machismo ou misoginia que enfrentamos em nosso cotidiano. O mais triste, talvez o mais grave, é que muitos que pensam assim, são eleitos e reeleitos representantes da sociedade nas mais variadas esferas de poder.
O voto é uma arma importante que precisamos aprender a usar de forma mais efetiva. É inadmissível que as mulheres sejam mais de 52% do eleitorado brasileiro, segundo dados do TSE, mas o desempenho das candidatas nas eleições para o legislativo seja tão pífio. Hoje os homens dominam o Congresso com 85% do total de parlamentares.
Talvez por isso a participação feminina nas lideranças partidárias ou presidências de comissões, especialmente as mais importantes, seja tão restrita. Em quase 200 anos de existência, jamais uma mulher foi eleita presidente em nenhuma das duas casas do Congresso Nacional.
Essa falta de representatividade faz com que algumas organizações se sintam à vontade para cometer disparates como se fossem de fato favoráveis a luta das mulheres. Na última terça-feira, o Grupo Voto, sem o menor pudor, divulgou evento organizado por eles intitulado “Ciclo Brasil de Ideias Mulher” para “discutir a participação feminina na política”. O absurdo disso tudo é que apenas homens foram convidados a palestrar. Certamente na cabeça dos dirigentes dessa tal instituição, nós mulheres devemos apenas ouvir e acatar o que os homens pensam, planejam e definem para o nosso futuro na política.
No Executivo a participação feminina é ainda menor. Atualmente apenas três mulheres ocupam ministérios: Damares Alves, indicada pelos evangélicos, Tereza Cristina, imposta pela Frente Parlamentar da Agropecuária no Congresso, e Flávia Arruda, designada pelo Centrão. Nenhuma das três foi escolha pessoal de Bolsonaro, que ao longo dos 28 anos como parlamentar, nunca demonstrou a mínima sensibilidade com a luta das mulheres.
Bolsonaro, aliás, é useiro e vezeiro em falar bobagens. Em relação às mulheres não poderia ser diferente. Na última terça-feira, durante solenidade em comemoração ao dia da mulher, soltou mais uma das suas famosas pérolas ao tentar homenageá-las com a seguinte frase: “Hoje em dia as mulheres estão praticamente integradas à sociedade”.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, não ficou por baixo e mostrou porque tem tanta afinidade com o presidente Bolsonaro. Em uma solenidade afirmou: “A mulher tem o prazer de escolher a cor da unha que vai pintar. A mulher tem o prazer de escolher o sapato que vai calçar”.
Me fez lembrar um episódio ocorrido há mais de 25 anos na Comissão de Assuntos Sociais da Câmara, durante a discussão de um projeto da então deputada Marta Suplicy em defesa dos direitos das mulheres. O cantor Agnaldo Timóteo, na época deputado federal, ao argumentar contra a proposta, saiu-se com a seguinte tese: “As mulheres têm mais direitos que os homens. Elas podem vestir o que quiser, podem vir pra cá de minissaia, enquanto os homens são obrigados a usar terno e gravata, mesmo nesse calor”.
Pensando bem, acho que não avançamos muito.