O discurso de que está sendo dado um golpe no Brasil ganha a cada dia maior consistência. A versão já tinha um poderoso porta-voz, o ex-presidente Lula. E virou o enredo preferido da esquerda. Agora, esta trilha sonora ganhou outro aliado, o presidente Michel Temer, que está se colocando na condição de vítima das forças obscuras. Estas são, com certeza, do mesmo batalhão das forças ocultas que levaram o ex-presidente Getúlio Vargas à morte. O PTB, o PMDB e o PT são os partidos mais populares da história do Brasil.
A operação Lava-Jato está caminhando para dividir-se em duas versões: a da moralidade e a de um instrumento autoritário. É preciso que as autoridades expliquem: por que mandar prender alguém que poderia ser chamado a depor? Afinal, foram lá, falaram e foram soltas.
O “domínio do fato”, introduzido no mensalão, se transformou num instrumento de acusação e o Ministério Público, a Polícia e o Judiciário adotaram, praticamente como regra, a dispensa de provas. E, é claro, sem falar naquele discurso mimado de que tem de ser assim ou está tudo acabado. Os arroubos e as declarações desmedidas são um componente da Justiça? Algumas vezes os condutores da investigação e das condenações atuam como se estivessem num show da vida.
A história é ingrata. Nem sempre ela coloca os personagens no lugar em que elas imaginam para si. O ex-presidente Getúlio Vargas não entrou para a história por ter dado um golpe ou ter sido um ditador. Entrou para a história pela criação da CLT, pelo nacionalismo e por ter sido levado ao suicídio por autoritários de plantão, cujos seguidores agora apostam na destruição dos partidos populares do país – o PT e o PMDB.
Estes são devassados – pela verdade e pela mentira – enquanto outros estão sendo poupados pelo Judiciário, pelo Ministério Público, pela polícia e pela mídia. Parece até que os que exercem o poder no Brasil se dividem entre os diabinhos e os santinhos.
O ex-presidente Lula, que já entrou para a história do Brasil, vai ser impedido de disputar as eleições e vai ser preso. Estes dois fatos não vão acabar com ele. Pelo contrário, vão ampliar o mito de um presidente que governou num período de prosperidade econômica, de redução da pobreza e implantação de amplas e generosas políticas sociais.
O presidente Temer será reconhecido por seu esforço para tirar o Brasil de uma das maiores recessões de sua história? O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a despeito do esforço de seus admiradores, será lembrado por ter estabilizado a economia e acabado com a inflação? A mídia entrará para a história, mais uma vez, como vilã, como ocorreu no suicídio de Getúlio Vargas, no apoio ao golpe militar e à ditadura militar?
A história está sendo construída. É cedo ainda para saber o que ficará de pé deste período da vida brasileira.