Lula tenta refazer a curva fechada de 2002

Um dos fatores que levaram à eleição de Lula em 2002, sua quarta tentativa, foi a Carta ao Povo Brasileiro, na qual prometeu uma política econômica de centro, parceira do setor produtivo. A aliança do noivado pouco provável foi de ouro puro: o empresário mineiro José de Alencar como vice da chapa. Lula ganhou e cumpriu o acordo: desprezou as utopias da esquerda que o ladeavam desde 1989 e fez um governo no qual, segundo ele mesmo transformou em mantra, “a elite ganhou dinheiro como nunca”.

Pode-se discutir qual cônjuge traiu o pacto nupcial: o PT, ao descuidar-se da austeridade fiscal, ou “a elite”, ao deixar-se levar pelo tal “ódio de classe” travestido de combate à corrupção. O fato é que o cenário de 2018 reencontra o PT com o mesmo drama de 2002, além dos outros mais graves do ponto de vista ético. Nove em cada dez investidores dizem segurar o dinheiro por temer a eleição de alguém contrário às reformas de Michel Temer, ou seja, Lula.

Na caravana por Minas Gerais, que começa com um ato em Ipatinga em defesa da soberania nacional, o ex-presidente quer fazer a mesma curva que o levou ao pódio com Alencar. Na sexta-feira, vai comemorar 72 anos na Coteminas, ao lado de Josué Gomes, filho de José de Alencar e presidente da empresa fundada pelo pai. É difícil reeditar a dobradinha com Josué, que é do PMDB de Temer, mas Lula já faz ponte com outros empresários de peso.

Depois de subir nas pesquisas com o discurso do “nós contra eles”, agora precisa flertar com “eles” para reduzir a rejeição. Assim como no Nordeste, ele terá em Minas a companhia de vários políticos de partidos adversários, que não são bobos nem nada – e Lula também não é.

Os petistas apostam nas andanças do líder ou em seu poder sacrossanto de abençoar um poste caso as sentenças do juiz Sérgio Moro – a já consumada e as que virão – sejam confirmadas, impedindo sua candidatura. São três no banco de reservas: Fernando Haddad, Jaques Wagner e Fernando Pimentel, líder das pesquisas para o governo de Minas. Um deles, além de escapar da Lava Jato, terá de aprender com o padrinho a fazer de tudo para subir a rampa, inclusive dormir com o inimigo.

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