As movimentações do ex-presidente Lula, desde que o Plenário do Supremo Tribunal Federal anulou os processos da Lava Jato contra ele, seguem uma linha lógica pra quem conhece e acompanha o político. As agendas no Norte e no Nordeste do país conseguem mostrar o possível candidato em um ambiente em que transita com a naturalidade de quem conhece a política brasileira e seus meandros mais profundos. Não é só ao clima árido e à cultura da região que Lula é familiarizado, mas também aos sobrenomes e histórias políticas que marcam essa parte do país há quase 500 anos.
A boa campanha de imagem divulgada nas redes sociais sem amadorismos, reforça a ideia de um líder político maior do que a eleição. Para além das críticas ao presidente em exercício, Lula visita produtores de alimentos em tempos de aumento do número de famintos e perda de poder de compra, e, acima de tudo, estende a mão a quem abre a porta ao diálogo e à construção de um caminho mais sólido para 2022. Se o argumento da elite é fugir da polaridade, Lula busca construir uma frente de centro.
O ex-presidente sabe que dificilmente fará um mandato melhor do que fez, em condições mais favoráveis, e que os erros do governo Dilma também são responsabilidade sua. Sabe ainda da dificuldade que será governar o país pós-Bolsonaro. Mas entende que qualquer movimentação política para o futuro, passa, necessariamente, pela força de seu nome e pela sua capacidade de agregar centro e direita, tanto da política quanto da economia, para construir uma alternativa vitoriosa em 2022.
As visitas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao senador tucano Tasso Jereissat e aos governadores do Norte e Nordeste são uma ponta da estratégia que provavelmente está voltada para a construção de uma chapa de centro, que não acirre as divergências existentes e que possibilite a governança sem a desqualificação de seu legado. A pergunta que fica é se Lula será capaz de abrir mão de uma candidatura, cada vez mais fortalecida, por outra de outro partido. Não são movimentos fáceis, mas podem estar em andamento e contam, claro, com a contribuição de um presidente em exercício que diariamente extrapola todos os limites estabelecidos por um Estado Democrático de Direito.