Nesta semana, o presidente Michel Temer completou o número que faltava para ser réu em 10 processos criminais. Coincidentemente, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, adiou o julgamento da prisão de condenados em segunda instância. Temer, assim, fica de frente para a prisão a qualquer momento, do que pode duvidar apenas os que não esperavam que ele seria tratado como Lula, por exemplo, pela operação Lava Jato.
Muito se disse que Toffoli teria decidido adiar porque aguardaria a corte a julgar o último recurso do petista contra a condenação pelo triplex, que é o que o mantém em Curitiba. O objetivo seria não fulanizar (e não polarizar) caso Lula seja beneficiado pela decisão. No entanto, é provável que Toffoli queira favorecer o ex-presidente, só que com retaguarda. Então, o julgamento sobre a prisão após condenação em segunda instância pelo Supremo deveria esperar Temer estar na mesma situação, não exatamente sentenciado em dupla jurisdição, mas atrás das grades. Certamente, o MDB do Congresso e suas relações judiciárias atuariam por um pacote só com o PT. Ademais, a Lava Jato tem avançado a passos largos sobre o PSDB, pelo fator Paulo Preto, e já bate à porta seriamente do diretório paulista e da velha guarda do tucanato. Mais força política para resistir ao desgaste de uma decisão pró-Lula.
Em paralelo, manter a decisão que pode tirar o petista do cárcere é sempre supostamente uma ameaça a Bolsonaro, caso queira desandar da agenda econômica para pautas anti-STF ou que a corte tenha caro, como direitos humanos. Digo supostamente porque, por outro lado, tanto a decisão em si quanto a soltura do arquirrival do presidente, permitiriam a Bolsonaro animar novamente a sua base, revertendo eventuais pontos que tenha perdido pelas questões paralelas do governo.
A saída de Lula não forçaria necessariamente uma recomposição de centro da gestão Bolsonaro, mas talvez uma do establishment político com o petista, nem que fosse como “inocente útil” para dobrar o capitão à uma reforma ministerial, que não sairá do horizonte do sistema político, estará disfarçada de oferta de sustentação para eventuais dificuldades. E Lula está fazendo questão de ser o oposto da agenda econômica de Paulo Guedes, ao contrário até dos elogios que este teceu ao primeiro mandato lulista. E ser o oposto de Guedes, com a popularidade resiliente que possui, é exatamente o gap que pode seduzir o sistema político a usá-lo como espantalho da “nova política”.
Ao perder a queda de braço pelo “direito ao toma lá dá cá” e praticamente ter que votar a Nova Previdência por patriotismo, como tem exigido o capitão, o establishment de Brasília ficará no “cá te espero”. Por isso que o encontro da “velha política” com Bolsonaro terminou com a dupla independência & Previdência. Não precisa ser sobre cargos e recursos, pode ser por proteção e tempo. O presidente terá a primeira chance, se negar, a bola poderá quicar na área para Lula chutar.
Em artigo recente da presidente Gleisi Hoffmann, o PT pediu para o sistema político para “voltar”, após o divórcio no Impeachment da sra. Rousseff. Disse a principal porta-voz de Lula: “Agora, os parlamentares que fizeram sua campanha querem debater os temas e são tratados como picaretas, o presidente insinua que querem lhe fazer (ou já fizeram) pedidos impublicáveis, típicos da velha política.”.
Não faltam setores econômicos, que ganharam, na era petista descontentes com a linha antissubsídios de Paulo Guedes, que na mesma audiência na CCJ, tratou de tirar os bancos do eventual regime de capitalização. Os bancos, com Lula, lucraram oito vezes mais.
Love is in the air.