Lula e a narrativa de Maduro-ditador

Lula parece pretender ser o líder do mundo, mas tem trocado os pés pelas mãos. Deseja também liderar a América Latina o que pode ser um tiro n'água se essa pretensão o isolar ainda mais em termos internacionais.

Presidentes, do Brasil, Luiz Inacio Lula da Silva, e da Venezuela, Nicolás Maduro - Foto Ricardo Stuckert/PR

Um tio meu muito querido, desembargador aposentado do TRT/ES postou-me, a propósito do discurso de Lula na Cúpula dos países da América do Sul, no qual situa Maduro como um democrata injustiçado: “Lula estava com os óculos embaçados na recepção dada ao ditador Maduro e pediu à Tribuna alguém para os lavar. Como estava lá e os óculos não voltaram deixou de ler o discurso e resolveu fazer um improviso e acabou se excedendo na louvação ao Maduro. Esqueceu as arbitrariedades e desgoverno que provoca a diáspora de venezuelanos e só criticou o bloqueio econômico americano à Venezuela. Então a culpa foi da falta dos óculos que impediram a leitura do discurso impresso. Terrível e indesculpável foi o improviso que irritou o Presidente do Uruguai e frustrou a cúpula da América do Sul”.

Hugo Chávez, líder histórico da Venezuela, morto há 10 anos, assemelha-se a um demiurgo venezuelano

Na verdade não se trata de excesso de louvor, mas da desnecessidade de elogios, pois o presidente Maduro é um ditador. Ponto. Como chefe de Estado não deve merecer destrato ou admoestação públicas e oficiais em evento internacional, merecendo o protocolo diplomático. Daí para as infelizes loas sobre a “demonização de Chávez está a distância entre o erro grave e sua reiterada repetição.

Lula parece pretender ser o líder do mundo, mas tem trocado os pés pelas mãos. O que poderia ser uma ilusão ou mecanismo de defesa contra todos os seus sofrimentos e culpas, vai indicando um delírio, o que remete ao quadro psiquiátrico da psicose.

Na China o disparate veio ao afirmar que quando um não quer, dois não brigam. Depois insinuou que a Ucrânia deveria ceder à Criméia e duas das regiões invadidas em 2022 aos russos.

Na Europa recuou e condenou a ocupação russa. Deixemos de lado os problemas do governo com o dá cá toma lá com o Centrão não somente pra lograr a aprovação do Marco fiscal (verdadeiro acordo Caracu) e outras “negociações” que já pouco significam objetivos reparatórios de danos, mas a desesperada manutenção no poder. Voltar à Venezuela é a questão.

Constituição da Venezuela de 1999 – Foto Reprodução

A Constituição da Venezuela de 1999 consagrou a existência de cinco poderes: executivo, legislativo, judiciário, cidadão e eleitoral. Maduro governa desde 2013 por decretos e poderes especiais. O país encontra-se destroçado econômica e politicamente. A corrupção, a escassez de produtos básicos, o fechamento de empresas e a deterioração da produtividade e da competitividade são algumas das consequências da crise.

De acordo com um estudo publicado em 2018 por três universidades venezuelanas, quase 90% dos venezuelanos agora vivem na pobreza. O Instituto CASLA entre outros apresentam pesquisas sobre a repressão sistemática dos opositores, prisoes e tortura envolvendo o conhecimento de altas autoridades, inclusive Maduro. Este driblou as sanções de países europeus e dos EUA dando a impressão de ter deixado a violência no passado. Engodo.

Presidente do Chile, Gabriel Boric – Foto Reprodução YouTube T13

A Venezuela uma democracia, afirma Lula? Conta outra! Na verdade aquele país mais se aproxima de um um narcoestado! O presidente do Chile, Gabriel Boric, um homem de esquerda, prontamente deixou claro a indecente conduta de nosso presidente. Foi seguido pelos presidentes Uruguai, Equador e Paraguai que discordaram da fala do brasileiro de que a ditadura na Venezuela é questão de ‘narrativa’.

Ademais, Lula desejar liderar a América Latina e nada é a mesma coisa. Mormente se a liderança pretendida o isolar ainda mais em termos internacionais. Europeus observam como Lula vai cobrar os bilhões que emprestou para Hugo Chávez e que Nicolás Maduro não pagou e dificilmente pagará. Quais as trocas permeiam as juras de amor de Lula por um ditador?

Bandeiras dos Estados-membros do BRICS – Foto Ministério de Relações Exteriores da Rússia.

O pragmatismo é condição da política, ao menos quando ela visa produzir ações sociais concretas. A busca da utopia sem compromissos e pautas de interlocução mais amplas tropeça no impossível. Há que se perseguir o impossível para lograr o possível. Manter relações políticas e comerciais com ditaduras é parte das relações internacionais. Elas buscam preservar e ampliar interesses entre países. Lula pode e deve manter relações com todos os países, sejam eles governados por regimes ditatoriais ou  democráticos. Ampliar a força dos BRICS nele colocando outros partícipes, inclusive a Venezuela, não exige a promiscuidade da falsificação histórica.

Fake News

Não há necessidade nem é aceitável em Lula, como chefe de Estado, incorrer no embuste da desinformação. O recurso à narrativa mentirosa sobre o governo venezuelano é, esta sim, a mais vil das narrativas fake news. Ademais, não soma e engrandece, mas divide e diminui tanto Lula e seu governo, como o Brasil.

A união de povos latinos parece gerar boas sementes se construídas em sólidas bases éticas. O comportamento de Lula foi abjeto, dando sequência a outras aleivosias públicas discrepantes com o papel de presidente da República. Errar é humano. Insistir no erro é despotencializar a vontade política, já um tanto débil, conspirando contra a própria ideia de república e de democracia.

Tomara que Lula mude sua assessoria de comunicação e controle mais os seus discursos. O verbo trair e analistas ensinam que o auto boicote é parte de uma sabotagem contra si mesmo, respondendo ao que subjaz: um imenso conjunto de culpas e problemas mentais.

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