Democratas e caudilhos

Para o autor, ao apoiar publicamente o ditador venezuelano Nicolás Maduro, Lula expôs o Brasil à aversão dos países democráticos.

Luiz Inácio Lula da Silva, com o Presidente da Venezuela, Nicola´s Maduro - Foto Ricardo Stuckert/PR

A história da América do Sul não serve como exemplo de governos democráticos. Desde as lutas pela independência, são constantes as alternâncias entre democracias passageiras e longos períodos de ditaduras caudilhescas, que anulam esforços de consolidação de regimes amantes da liberdade.

A palavra caudilho, segundo os dicionários, é de origem espanhola. Designa chefes de bandos armados, em luta contra o governo central, ou mobilizados para dar sustentação a regimes discricionários, que usam da força para se perpetuarem no poder.

Juan Domingo Perón

Em breve artigo é impossível relacionar os caudilhos sul-americanos. Alguns conseguiram lugar destacado na história, como sucedeu com Juan Domingos Peron. Nascido na cidade de Lobos, em 8/10/1895, veio a morrer em Buenos Aires, em 1/7/1974. Cursou a Escola Militar e alcançou a patente de coronel. Iniciou a carreira política à frente da Secretaria do Trabalho e Previdência – órgão com status de ministério – o que lhe permitiu levar a cabo intenso trabalho de arregimentação de operários conhecidos como descamisados, presentes nas campanhas para a presidência da República. O casamento com a atriz Eva Maria Peron, ou apenas Evita, bela mulher de inigualável força carismática, lhe trouxe o apoio de que necessitava, para permanecer no poder. Criado estava o movimento peronista que, passados 49 anos da morte de Perón, domina a a política argentina.

Semelhante ao de Perón foi o caudilhismo de Getúlio Vargas, o maior nome da política brasileira. Coube à genial visão de Vargas a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CGT), pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º/5/1943, cujo 80º aniversário foi celebrado em todo o País. Em eloquente discurso, pronunciado em 1952, nas comemorações do Dia do Trabalho, Vargas assumiu a CLT como obra de caráter pessoal a que havia se consagrado desde quando, à testa da Revolução de 1930, alcançou a “magistratura suprema da nação” (Ensaios de Opinião, Ed. Inúbia, s/d, pág. 25).

Getúlio Vargas

Perón morreu de morte natural. Vargas se matou com um tiro no coração em 24 de agosto de 1954, como recurso extremo para não ser mais uma vez deposto pelas Forças Armadas. Deixou como legado a Carta Testamento, cujo primeiro parágrafo diz: “Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadearam sobre mim”, e o último afirma: “Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.

Peron e Getúlio Vargas se equiparavam nos cuidados com as questões sociais. Ignoro que tenham sido acusados de desonestidade. Não guardam semelhanças com demagogos, corruptos e sanguinários que proliferam na história da América do Sul, e têm hoje, na figura de Nicolás Maduro, ditador da Venezuela, o expoente latino-americano.

Com seis meses de governo, o desprestígio em alta e a popularidade em queda, o presidente Luís Inácio Lula da Silva encontrou em Maduro o tirano de sua preferência, merecedor de reverências e homenagens. Logo ele, responsável direto pelos piores sofrimentos do povo venezuelano, sem saúde, sem comida, sem dinheiro, sem moradia, sem trabalho, obrigado a se refugiar em países vizinhos, como o Brasil.

Presidentes do Chile, Gabriel Boric e do Uruguai, Lacalle Pou

A presença de Nicolás Maduro em Brasília afrontou os nossos valores morais. Diante da vassalagem de Lula, reagiram o presidente do Uruguai, Lacalle Pou, e Gabriel Boric, do Chile. Dirigindo-se a Lula, falou Lacalle Pou: “para que haja respeito aos direitos humanos, para que não haja presos políticos, o pior que podemos fazer é tapar o sol com o dedo”. Boric, por sua vez, declarou: “Não se pode fazer vista grossa a princípios importantes. Discordo do que Lula disse ontem (30/5). Não é uma construção narrativa, é uma realidade que tive a oportunidade de conhecer em centenas de milhares de venezuelanos que vivem em nossa pátria.”

Com o apoio assegurado a Nicolás Maduro, criminoso com mandado internacional de prisão, o demagogo Lula expôs os brasileiros a aversão continental.

– Almir Pazzianotto Pinto é Advogado. Foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho.

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