Tempestade em copo d’água (contaminada) é como os militares estão vendo a repercussão do tal tuíte do general Eduardo Villas Bôas em 2018, já conhecido de cima a baixo, mas agora reavivado pelo lançamento do livro. Pode ser que não tenha a importância que se lhe atribui, embora seja inevitável que produza um ataque de nervos em gente que acredita em assombração. Pode-se atribuir sua repercussão exagerada ao vazio noticioso do Carnaval sem samba. Mas que doeu, doeu.
Quiproquó militar. Um general de pijama lança um livro de recordações de sua vida nos quartéis, com uma pitada de política nos finais de sua carreira. A mídia amplifica, dois ministros do STF soltam frases ameaçadoras, um policial militar (segunda linha da reserva das forças armadas) deputado federal calcula mal o alcance de suas prerrogativas, toma as dores do general, soma-se um ministro do STF midiático que manda prender (e arrebentar, pois derrubou as imunidades parlamentares) e, pronto, está formada a crise institucional.
O fato gerador em si tem pouca relevância, tanto que pouco repercutiu no seu tempo, em 2018, quando ataques mais ferozes ao ministro indigitado, Edson Fachin, então disparados pelos partidários do pomo da discórdia, na época o ex-presidente Lula da Silva, que acabou preso em Curitiba, não focavam o general, mas o juiz Sergio Moro e a tropa de procuradores de Deltan Dalagnol.
O general, respondendo, já fora de contexto, lembrou que eram águas passadas, mas a mídia botou gasolina no fogo atribuindo a frase a uma provocação como se o ministro tivesse ficado com medo dele lá atrás. Foi o que bastou para voltar o bicho-papão ao noticiário naqueles velhos bordões: golpe de estado em curso. Será?
O que se sabe desses bastidores ainda é pouco. O general Villas Bôas diz que só queria lançar seu livro, numa cerimônia marcada para o dia 26, às 17h30, no Clube do Exército. O deputado Daniel Silveira, preso num quartel da PM do Rio, sua corporação de origem, avalia se valeu a pena, pois ao cutucar a onça com vara curta estava pensando nas eleições de 2022. Pode ser candidato a senador pela ultradireita e, dizem, até ao Palácio Guanabara, caso o governador afastado, Wilson Witzel, fique impedido de concorrer à reeleição. O parlamentar, entretanto, corre o risco de ser cassado pela Câmara e também perder seus direitos políticos. As cartas estão na mesa.
Enquanto isto, o presidente Jair Bolsonaro está na moita. Aconteça o que acontecer, ele pode ganhar pontos, pois entra com tudo numa batalha de mídias sociais, o que só reforça sua campanha pela reeleição. Já o deputado do PSL carioca, famoso por ter sido um PM truculento, metido a valentão, deu uma de recruta e disparou seu tiro no pé. Que fiasco!