Algumas pessoas sugerem que seria conveniente que os cargos executivos políticos fossem assumidos por empresários acostumados a liderar negócios. Seria uma maneira de fazer os governos terem a eficiência da empresa privada. Argumentos contrários se concentram nas diferenças em finalidade e na forma de gestão. Em empresas, por exemplo, demissões são prática normal por baixo desempenho, diferentemente de governos. Líderes em governo também devem negociar sua pauta com o Congresso e se submeter às fiscalizações dos Tribunais de Contas e às demandas dos eleitores. Também não podem, salvo poucas exceções, contratar pessoas sem concurso público ou comprar sem licitação.
Porém, o papel do governo sempre foi muito diferente do papel de uma empresa privada. Segundo o CLP (Centro de Liderança Pública), o papel do governo é cuidar de gente e líderes no setor público precisam saber mobilizar as pessoas por meio de valores e visões; persuadi-las e fazer convergir seus esforços para uma causa comum. No Setor Público é importante uma administração voltada para o bem social, que atenda às necessidades de uma sociedade, que seja eficiente e pautada pela ética.
Pelo lado privado, o economista Milton Friedman (Prêmio Nobel da Economia – 1976) disse que a única responsabilidade social das empresas é gerar lucros para os seus acionistas contanto que obedeçam às regras do jogo e participem de uma competição aberta e livre.
Não mais. Uma grande mudança acontece nas empresas privadas hoje, fazendo com que a sua gestão se aproxime bem mais de exigências próprias cobradas de gestores públicos.
Lideranças empresariais são cobradas por uma responsabilidade social junto às comunidades onde atuam, são vigiadas por clientes de qualquer parte do mundo na utilização de insumos vindos de desmatamento ou trabalho escravo e devem satisfação sobre a diversidade no seu corpo de empregados. Diferenças salariais por gênero, discriminação por raça e leniência com assédio sexual ou moral colocam as lideranças empresariais próximas das mesmas exigências feitas aos líderes políticos em geral. Isso tudo foge muito da exclusiva busca do lucro.
Na estrutura empresarial, os critérios de governança corporativa exigem uma prestação de contas de tudo que é feito, uma transparência com os números e ações e equidade no trato com grupos minoritários. Exigências de compliance travam até a velocidade tradicional das empresas privadas nas suas regras burocráticas.
Empregados vindos principalmente das novas gerações são atraídos por empresas que tenham um propósito e comportamento ético. Há algum tempo a Google teve problemas com empregados que rejeitavam projetos com o governo americano na área de defesa.
A globalização espalhou as empresas pelo mundo e as cadeias globais de produção capilarizadas aumentaram muito a complexidade de gestão e a dificuldade de localizar um problema em algum ponto da cadeia. A rastreabilidade tornou-se fundamental com a disseminação dos conceitos de ESG (Meio ambiente, social, governança) e a velocidade de propagação de qualquer reclamação nas redes sociais, que pode levar a um boicote de produtos, empresas ou até países.
Presidentes de empresas não são eleitos pela população votante, mas os acionistas que os elegem na atualidade respondem quase da mesma maneira, influenciados não mais só pelos resultados alcançados, mas também pela opinião pública – e não só dos seus países.
Executivos de empresas devem, cada vez mais, atuar com as preocupações que só as lideranças públicas tinham – ou deveriam ter. Cuidar de gente e mobilizá-las com ética, valores, visões e propósitos passaram a ser também essenciais atribuições das lideranças privadas.