Se um ET desembarcasse agora no Brasil, daquela sua nave luminosa presente em tantas historinhas e dissesse: levem-me ao seu líder, a quem ele seria encaminhado? Legitimamente eleito, o presidente é Jair Bolsonaro, reduzido, na feliz imagem do ex-ministro Raul Jungmann, a líder dos caminhoneiros.
Já estes, pelo que se viu depois da reunião no Palácio do Planalto nesta quinta-feira, com um certo Chicão Caminhoneiro à frente (que, inclusive, foi candidato a vereador em Santa Catarina), decidiram que falam em nome de setores da sociedade, que não estão se importando com a alta da gasolina e que querem “construir uma agenda para o povo brasileiro”. Enquanto isso, Zé Trovão dispara vídeos do México, onde se escondeu, agora aparentemente rompido com o presidente.
Seria cômico se não fosse trágico. Nem os caminhoneiros o presidente lidera.
Quanto tempo vai durar seu novo recuo, se a reação de suas bases o obrigar a, novamente, voltar atrás?
Mas, voltando… de fato, onde estão as verdadeiras lideranças do país? Aquelas que as pessoas param pra ouvir, levam em consideração suas palavras? Não se fala mais em reserva moral, expressão antiga para se referir a algum político – ou um magistrado, por exemplo – acima de qualquer suspeita. Aliás, outra expressão em desuso.
Vez por outra, repete-se uma frase de Ulysses Guimarães. E ele está morto há quase 30 anos. É como se, depois daquela geração – de Mário Covas, Tancredo Neves, Franco Montoro, Teotônio Vilela, Paulo Brossard, entre outros – não haja ninguém mais digno de citação.
Eles já não eram jovens quando veio a redemocratização do país. De lá pra cá, a impressão que se tem é que não se construiu uma nova geração de políticos que vão além de sua base eleitoral. Poucos ultrapassam as fronteiras de seus estados. Como imaginar que, às vésperas de uma nova eleição, não estivessem entre os nomes mais cotados os governadores de Minas Gerais e São Paulo? Ainda, claro, que o governador deste último esteja em franca campanha.
Estudiosos haverão de se debruçar sobre o tema. Alguns já o fazem. Mas é impressionante que, por onde se olhe, não há um só nome que tenha o status de liderança minimamente acima de um grupo. É claro que muita coisa mudou, inclusive na forma de comunicação. Mas isso é outra história.
Olhando para o Congresso, especialmente esta última legislatura, os parlamentares se destacam pela defesa de interesses corporativos dispersos e são majoritariamente fisiológicos. Qual o grande orador ou o exímio articulador? Quem são os líderes partidários conhecidos fora dos Salões Verde e Azul? Que fale para toda a Nação? Nem mesmo os presidentes das duas casas merecem, ao menos até agora, uma referência maior.
Fora do Congresso, pode-se olhar para as reuniões de representantes de partidos que discutem seja o impeachment, seja uma opção eleitoral fora do Lula x Bolsonaro (aliás, dois “cases” sobre liderança: um que não deixou ninguém crescer; o outro, um ponto fora da curva, que não agregou ninguém ao seu redor, além dos filhos e uns poucos militares mais bajuladores). Se se tomam como medida as pesquisas eleitorais, ainda que prematuras, ninguém rompe a barreira dos 10%.
Mas não é apenas isso. Entre todos ali, uns mais outros menos respeitáveis, quem é o mais aglutinador? Ou quem é aquele que fala e todos param pra ouvir? Quem mais se aproxima deste perfil é o nonagenário Fernando Henrique Cardoso. Mas não há ali o que se poderia chamar de liderança inconteste. No máximo, algumas promissoras.
Claro que não se deve generalizar; há bons políticos, articulados, honestos. Não são muitos e em menor número ainda os que podem se encaixar no perfil de líderes. E não se trata aqui de heróis, messiânicos ou simplesmente carismáticos. E, sem dúvida, há uma lacuna aí que, ao que parece, tem nos feito falta. E, embora tenha sido o foco, não é apenas na política.
PS: Este texto foi escrito antes da “Declaração à Nação” do presidente. E fica o registro: uma “liderança” inepta não torna maior a que veio em seu socorro.