Joia rara prometida: Vila Isabel vai cantar Brasília como lenda indígena

JÉSSICA ANTUNES, DA AGÊNCIA BRASÍLIA

A Unidos de Vila Isabel escolheu o samba-enredo que homenageará a capital de todos os brasileiros no Carnaval do Rio de Janeiro. “Gigante pela própria natureza – Jaçanã e um índio chamado Brasil” vai contar a história como uma lenda indígena, nascida para levar esperança aos povos da terra (ouça abaixo).

Na narrativa, Brasil é um curumim (criança, em tupi-guarani) que entra em uma canoa, dorme e sonha que está sob as asas de uma jaçanã (pássaro), por onde passeia para conhecer seu povo. “Assim nasceu a flor do cerrado, quando um cacique inspirado olhou pro futuro e mandou construir Brasília, joia rara prometida”, diz a letra.

 

“A gente teve a liberdade de construir uma história do povo brasileiro se dirigindo à capital da esperança”

Edson Pereira, carnavalesco da Vila Isabel

A sinopse elaborada pelo sambista e compositor Edson Pereira em parceria com os antropólogos Clark Mangabeira e Victor Marques explica que a origem de Brasília é alimento criativo para a composição lúdica.

“A gente teve a liberdade de construir uma história do povo brasileiro se dirigindo à capital da esperança. Um sonho não só de JK [Juscelino Kubitschek], mas de todos os brasileiros, contada por meio da história de um índio humanizado – o primeiro dono da terra Brasil – para conhecer o próprio povo por um sonho”, explicou o autor Edson Pereira à Agência Brasília.

O carnavalesco conta que o pequeno Brasil sobrevoa o país nas asas da ave para conhecer sua cultura e formar a identidade dos brasileiros no ‘caldeirão cultural que é Brasília’. “O importante é mostrar que está falando do povo brasileiro e seus sonhos de um país melhor“, ressalta. O enredo ainda valoriza a fé do candango, que “carrega filho e mulher para erguer nova cidade”.

“A ideia é ressaltar a qualidade que a cidade tem para além de seu valor simbólico como patrimônio arquitetônico, mas a característica de ser a síntese do povo brasileiro”, afirma o secretário de Cultura do DF, Adão Cândido. Por isso, diz, o samba-enredo visita as vertentes culturais de Norte a Sul, mirando a união de todos os brasis.

 

“Brasília tem essa característica única e queremos que todo brasileiro sinta que a capital também é sua.”

Adão Cândido, secretário de Cultura do DF

Capital de todos

A aproximação de Brasília com Vila Isabel foi coroada em maio, quando uma delegação da escola carioca esteve reunida com o governador Ibaneis Rocha, no Palácio do Buriti. Um termo de cooperação entre o Governo do Distrito Federal (GDF) e a Unidos de Vila Isabel foi assinado para a promoção de Brasília no maior Carnaval do mundo.

Pelo acordo, o GDF ajudará a escola de samba carioca a conseguir patrocínio da iniciativa privada por meio de uma ferramenta legal que permite a transferência de recursos de impostos pagos por empresas e pessoas físicas a projetos culturais.

Em contrapartida, a Vila Isabel promoverá ações sociais de formação das escolas de samba do DF. O grêmio recreativo já fez dois seminários à comunidade carnavalesca da capital. Ele também visitou as escolas de samba do DF e recebeu representantes na sede, no Rio de Janeiro.

“Estamos levando um pouco de conhecimento, queremos ensinar um pouco da nossa cultura, o que condiz com o samba enredo criado. Distribuir, ensinar, contaminar com nossa cultura”, diz o carnavalesco. Uma delegação de Brasília deve compor o desfile. A Vila Isabel será a segunda escola a desfilar na segunda-feira de Carnaval (24 de fevereiro).

Vila Isabel

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos de Vila Isabel é uma das mais tradicionais escolas de samba da cidade Rio de Janeiro. Ela foi fundada em 04 de abril de 1946, no quintal da casa de Seu China, Antônio Fernandes da Silveira. Em dezembro daquele ano, foi filiada à União Geral das Escolas de Samba do Brasil.

24 de fevereiro
É a data do desfile

Os primeiros ensaios foram realizados no quintal da casa do Seu China. No primeiro desfile, em 1947, a Unidos de Vila Isabel tinha apenas exatos cem componentes. Desde então, ganhou três títulos de campeã pelo Grupo Especial carioca (1988, 2006 e 2013).

Confira o samba-enredo e composição

Sou eu!
Índio filho da mata
Dono do ouro e da prata
Que a terra mãe produziu

Sou eu!
Mais um Silva pau de arara
Sou barro marajoara
Me chamo Brasil

Aquele que desperta a cunhatã
Pra ouvir Jaçanã sussurrar ao destino
O curumim, o piá e o mano
Que o vento minuano também chama de menino

Do Tapajós
Desemboquei no Velho Chico
Da negra Xica, solo rico das Gerais
E desaguei em fevereiro
No meu Rio de Janeiro terra de mil carnavais

Ô viola!
A sina de Preto Velho
É luta de quilombola, é pranto é caridade

Ô fandango!
Candango não perde a fé
Carrega filho e mulher
Pra erguer nova
Cidade

Quando a cacimba esvazia
Seca a água da moringa
Sertanejo em romaria é mais forte que mandinga

Assim nasceu a flor do cerrado
Quando um cacique inspirado
Olhou pro futuro
E mandou construir

Brasília joia rara prometida
Que a Nossa Senhora de Aparecida
Estenda seu manto
Pro povo seguir

Sou da Vila não tem jeito, fazer samba é meu papel
Fiz do chão do Boulevard, meu céu
‘Paira no ar’ o azul da beleza
Gigante pela própria natureza

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