A Itália tem agora muito menos deputados e senadores, que não farão falta nenhuma e ninguém naquele belo país se preocupou com isso. Ao contrário, o povo deve ter ficado satisfeito, porque apenas 14 parlamentares votaram contra a redução drástica do total de parlamentares, e 553 foram favoráveis à degola das vagas, em votação no Congresso deles.
A economia de recursos pode ter sido um dos motivos da higienização, além da adequação do número de parlamentares à população. Eram 945 deputados e senadores, ficarão 600. Menos 345 vossas excelências. Se não houver economia de recursos, pelo menos os equipamentos dos ocupantes das vagas canceladas – computador, cadeiras, cotas de tudo – podem ser vendidos e o dinheiro transferido para entidades de promoção social. A mudança foi promovida pelo próprio Congresso.
O Brasil é o segundo maior parlamento do mundo, com 513 deputados e 81 senadores. Perde apenas para o dos Estados Unidos . Aqui entre nós tem muitos senadores e deputados, mas não precisava tanto. São 3 senadores por Estado, um exagero criado pelo golpe de 64 para garantir maioria ao governo no Congresso. E mantido pela Constituinte. Dois senadores bastariam para o serviço. Senadores e deputados contam com vários recessos ao ano no Brasil, para que não sejam licenciados por estafa.
No Senado tem ainda os suplentes de senadores. Esses não tem nenhuma utilidade, salvo emprestar recursos e garantir a eleição do titular, para depois assumir sua vaga, nem que seja por um mês. Com direito a mesada. Caso o titular venha a sofrer algum tipo de impedimento, como doença e outros motivos. Ou simplesmente desistir da carreira política. O certo seria, em caso de vacância , assumir a vaga o segundo candidato mais votado no Estado. Não o amiguinho do titular.
A redução do número de parlamentares promoveria também a diminuição de pessoal nos plenários. Deputado, assessor, outro assessor, jornalista, chefe de gabinete, uma zona. Mas não adianta proposta de redução porque nenhum parlamentar votará uma lei que seja contra eles próprios. Na campanha, o Pátria Amada defendeu a redução de um bom número de senadores e deputados, mas depois esqueceu a ideia. Caso aprovada a redução de parlamentares no Congresso, o dinheiro economizado poderia ser aplicado no saneamento básico de metade do país, onde as contaminações comprometem a saúde dos moradores.
Os parlamentares amam o Congresso e seus benefícios, por isso tratam de se reeleger. Afinal, lá eles tem assistência total, bela aposentadoria, apartamento de luxo e um monte de verbas auxiliares. O Brasil gasta com a manutenção anual do Congresso US $ 4,4 bilhões de dólares , ultrapassado apenas pelos Estados Unidos que aplicam, no mesmo período e também com as despesas mensais de deputado e senador, US $ 5,1 bilhões, segundo dados da União Interparlamentar (UIP), órgão ligado à ONU .
O custo elevado de manutenção é problema em vários países, mas poucos aceitam medidas que visem a redução do número de deputados e senadores. Inexiste pesquisa de opinião pública no Brasil que possa indicar a preferência da sociedade. Estudiosos indicam que dificilmente a redução do número de parlamentares seria rejeitada. Por isso não é colocada em votação. O próprio Legislativo não dispõe de grande aceitação popular na maioria dos países, pelo desempenho de seus integrantes e um certo desinteresse da população. A rejeição aos políticos se estende à instituição. Se o voto não fosse obrigatório no Brasil, muito mais gente deixaria de votar. E o voto deveria ser facultativo.
— José Fonseca Filho é Jornalista