A ânsia de lucros em certos setores empresariais, especialmente decorrente de grandes investimentos – como na área da comunicação social – supera a preocupação com a qualidade e a ética do pretendido entretenimento. Certos empreendedores se interessam pelo lucro máximo, despreocupados com a criatividade, a inteligência e os princípios morais e culturais das mensagens apresentadas ao longo da programação, na área televisiva.
A ânsia pelos lucros ou a simples cobertura de prejuízos levaram setores do comércio a ampliar os horários de atendimento ao público, mantendo os estabelecimentos abertos até meia-noite ou noite adentro. A jornada contínua foi ampliada em vários setores, em todos os países. Hoje existem farmácias 24 horas, supermercados Dia e Noite, Aberto 24 horas, clínicas dia e noite, Banco 24 horas e fast food dia e noite, para os egressos da boemia.
Sem contar os bares que avançam pela madrugada, abertos enquanto houver consumidores. Emissoras de televisão e rádio, desde sua consolidação mantiveram a programação durante todo o dia e a noite. Apresentavam qualquer programa que provocasse sono dos assistentes ou, por outro lado, sustentasse a insônia de outros. Era mais um remédio.
Clínicas e hospitais, serviços de segurança, obviamente, sempre operando 24 horas. O que mudou recentemente na televisão foi a apresentação de um único programa, não necessariamente bom, ao longo das 24 horas. Se existe público assistindo é uma incógnita.
Os hábitos mudaram. A Globo está faturando milhões com um programa imbecil denominado BBB Brasil: Besta, Beócio, Babaca Brasil. Um insulto à sociedade e ao país. O besteirol foi ampliado para acesso em 24 horas de transmissão. Através da Globo Play, uma máquina de amplificar e repetir asneiras, que pode ser sintonizada nas 24 horas. Para isso o usuário pagará quantias irrisórias. A emissora terá ganhos adicionais e prejudicará mais a saúde mental dos brasileiros.
Descrever ou comentar as bobagens e ridicularias do programa é difícil. Muitos não acreditariam. Os disputantes, atraídos por milhões de reais em prêmios pela exibição de suas baboseiras, topam fazer qualquer coisa. As mulheres fazem o mesmo ridículo papelão. E uma poderosa rede de televisão se especializa em humilhar e explorar as carências intelectuais dos brasileiros enganados pela besta mídia.
Para ganhar mais público, a Globo anuncia o BestaBeócioBabaca Brasil ampliado ao longo de toda sua programação. Em seu programa a quituteira Ana Maria Braga, entre um brigadeiro e um pastel, diz que vai entrevistar o bestóide que entrou no paredão. Lá vai ganhar de brinde uma goiabada sem queijo.
Enquanto isso as BBBobas, com seus vestidinhos e shorts exibidos e pinturas estrambólicas no rosto esgotam seus recursos exibicionistas. Agora é só ficar falando besteiras e cuspindo pipocas na direção das câmeras. No público, isto é. Há empresas que pagam para exibir seus produtos nesse estapafúrdio contexto.
As 24 horas de terror merecem mais promoção. Por isso, aos 20 minutos do Jornal Nacional, o apresentador William Bonner libera Galvão Bueno, da equipe esportiva, que começa a gritar “foi gol” e “é tetra, é tetra” em altos brados, aparentando descontrole emocional.
E ninguém fica sabendo, pelo noticiário, quantos foram assassinados na Ucrânia, pelos esbirros de Putin. Uma atração, porque as notícias eram interrompidas pelos gritos do Galvão. Já na missa do Padre Marcelo, a Globo vai oferecer mil reais a quem engolir uma hóstia com pimenta, sem reclamar.
O desgaste cultural da população que assiste é incomensurável. A penalização dos espectadores uma realidade. A tentativa de imbecilização dos brasileiros é um crime. Mas haverá reação em aceitar passivamente a exposição dos maus princípios e mantendo os rumos do falso entretenimento.
O programa é algo de espetaculoso, fantasioso e indecoroso pelo desrespeito ao público. Mas tem características também misteriosas. Apresentam-no como de alto índice de audiência. É curioso também que, ao serem indagados – por mim – vários brasileiros respondem que jamais assistiram a uma edição desse programa.