No dia 25 de novembro de 2015 o Senado Federal enfrentou uma das suas piores crises. Na manhã daquela quarta-feira, a Polícia Federal prendeu o líder do governo da então presidente Dilma Rousseff, senador Delcidio do Amaral (PT), acusado de obstrução de justiça.
Gravado tentando comprar o silêncio do ex-diretor Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, que na época negociava uma delação premiada com o Ministério Público, Delcidio abalou as hostes do Senado Federal. Os senadores ficaram desnorteados com a decisão do Supremo em mandar prender um senador, mas poucos tiveram coragem de defende-lo na tribuna.
Em maio de 2016, após vazamento do conteúdo da delação premiada que havia negociado com o Ministério Público, o ex-petista teve o mandato cassado pelos colegas por “falta de decoro parlamentar”.
Dois anos depois, quem apostou na morte política de Delcidio pode se surpreender. No último dia 26 de setembro, a juíza eleitoral Elizabete Anache liberou a candidatura de Delcidio pelo PTC ao Senado.
Absolvido da acusação de obstrução de justiça pelo juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília, no dia 12 de julho deste ano, Delcidio resolveu voltar à política. No dia 17 de setembro, no último dia do prazo para fazer a troca, o ex-petista registrou sua candidatura junto à Justiça Eleitoral, em substituição a César Augusto Nicolatti.
Em coletiva para a imprensa do Mato Grosso do Sul há poucos dias, Delcidio disse que sua defesa tenta restabelecer seus direitos políticos. Ele espera que o Supremo Tribunal Federal (STF), assim como fez com o também cassado ex-senador Demóstenes Torres, afaste a sua inelegibilidade.
Pode até ser que o ex-petista não consiga ser eleito, mas com apenas uma semana de campanha e pouco mais de um segundo de propaganda na TV, o ex-líder do governo Dilma Rousseff já conseguiu embolar a disputa pela segunda vaga ao Senado Federal no Mato Grosso do Sul.
De acordo com a pesquisa do Ipems/Correio do Estado publicada hoje no MS, Delcídio já está com 17,8% das intenções de voto, tecnicamente empatado com o senador Waldemir Moka (MDB), que concorre à reeleição.
Vingança ou não, o fato é que a candidatura de Delcidio vem ameaçando inclusive o ex-governador Zeca do PT, que caiu de 31,36% para 24,09% nas últimas semanas.
A campanha do ex-líder do governo Dilma Rousseff tem sido feita nas ruas e pelas redes sociais. O recado na foto de capa do seu Facebook é claro: “Dá uma geral, faz um bom defumador/
Enche a casa de flor/ Que eu tô voltando”. Trecho da música Tô Voltando, de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós, sucesso de Simone, que por virou um dos hinos da anistia política em 1979.
Quem conhece o lado mais pop de Delcídio, e tem lhe ouvido ao longo de seu desterro no Pantanal, considera igualmente apropriado o I will be back (eu voltarei), consagrado por Arnold Schwarzenegger em O Vingador do Futuro.
Se em algum momento ele não for barrado pela Justiça, ou pelos eleitores, pode realmente voltar.