Guedes prepara economia para campanha da reeleição

Parece economia, mas é política. As anunciadas ações do ministro da Economia são barradas porque o presidente da República só pensa naquilo: ganhar mais quatro anos de mandato. O jeito é se acomodar e aceitar o jogo do chefe

Guedes e Bolsonaro - Foto: Orlando Brito

O ministro Paulo Guedes tem decepcionado seus adversários porque não pede o boné e volta para o Rio de Janeiro, depois de tantos dissabores. A oposição não aguenta mais tanta condescendência do presidente Jair Bolsonaro com o czar da Economia. Não há o que lhe faça pedir as contas. Seu projeto neoliberal foi para as calendas, seus principais auxiliares deram com a serventia da porta, a mídia não se cansa de exigir um gesto de autoestima cada vez que alguma coisa sai errada. Enfim, ninguém entende como o Posto Ipiranga continua onde sempre esteve, às costas do capitão, como escudeiro nas batalhas medievais.

Resumo da história: Guedes não cai, não é demitido, defende um programa inexequível, está alinhado como fiel servidor de seu chefe, preparando da forma que for possível o caminho para a reeleição. Nada de grandes planos. Os sonhos ficarão para o segundo mandato. É preciso chegar lá. Essa é a leitura.

Num governo errático, não se quer dizer que tudo não possa mudar de uma hora para outra e Guedes apareça no Aeroporto JK amanhã pegando um avião para a praia do Leblon. Entretanto, o mais sensato é admitir que ele não vai morrer na praia. Os dois, Bolsonaro e seu ministro, continuam alinhados como nos tempos em que eram dois políticos solitários e desacreditados, com oito segundos de tevê, enfrentando os maiores caciques do cenário nacional.

Nos próximos meses, o cenário político vai mudar completamente. Assim que se fecharem as urnas da eleição municipal, sem coligações proporcionais, diante da cláusula de barreira, os partidos saberão com que contam para as próximas eleições em 2022. Só então as forças sobreviventes irão se realinhar e se preparar para o embate decisivo.

O ex-presidente Lula, em janeiro de 2020 – Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas

Neste sentido, a pesquisa eleitoral do portal Poder 360/Bandeirantes é muito interessante: os adversários do presidente Bolsonaro, no quadro pré-eleitoral, são dois candidatos inviáveis. Lula é inelegível, condenado em dois processos criminais com mais quatro denúncias pela frente. Sérgio Moro, o outro nome que figura no topo, não tem partido. É pouco provável que alguma legenda relevante se ofereça para o juiz de Curitiba. Ou seja: Bolsonaro não tem adversário à altura ameaçando pisar seus calcanhares.

Neste quadro, o presidente não corre perigo de ficar de fora do segundo turno em 2022. A briga será na oposição, para ver quem irá para a partida final com Bolsonaro: João Doria ou Fernando Haddad. Nos dois casos, a tendência de migração no segundo turno favorece o capitão: uma parte significativa dos tucanos e adjacências não vota no PT. O mesmo na outra hipótese, os petistas e esquerdas independentes dificilmente sufragarão o nome de Dória, mesmo que seja para derrotar seu arquiadversário. Então, ele corre limpo na raia. É uma análise convincente. Fora desse quadro é tudo ilusão, sonhos de uma noite de verão.

O ministro Paulo Guedes, da Economia – Foto: Orlando Brito

Por isto, Bolsonaro não está tão impressionado com o fracasso da pauta econômica de Paulo Guedes, derrubada, de fato, pelas vicissitudes da pandemia. Não fosse a peste, o governo estaria comendo poeira para absorver derrotas no Parlamento. Então, cabe a Guedes segurar a administração, resguardando seu chefe de cascas de banana que possam fazê-lo rodar, ou seja, levar um processo de impeachment. Responsabilidade fiscal é a regra a ser seguida a qualquer custo, mesmo que tenha de fazer acrobacias como esta do veto às isenções fiscais às religiões.

Com a economia em banho-maria, o governo deve insistir na pauta de costumes, como se diz, voltando à sua agenda original, os temas que trouxeram Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto. As oposições que se preparem para se arrepiar com o que vem por aí. Sem querer avançar no terremoto do politicamente incorreto, basta mencionar que nas redes sociais as bases ortodoxas da direita estão apresentando como candidato à sucessão a ministra Damares Alves. É um sinal de que além do negacionismo nos casos dos incêndios florestais e do combate à pandemia, outros assuntos incômodos estão chegando. Uma boa pista será observar como o presidente vai se comportar no segundo do turno das eleições municipais. Seus marqueteiros dizem que quanto mais bater no politicamente correto melhor se sai. Então é ver para crer.

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