Vencendo todas as dificuldades, as vacinas salvadoras começam a chegar, embora em doses homeopáticas. As primeiras aplicações, após serem atendidos grupos de altíssimo grau de risco, serão feitas em idosos de idade superior a 90 anos.
Devemos render graças a Deus e aos incansáveis dirigentes, infectologistas, médicos, enfermeiros e servidores do Instituto Butantan e da Fundação Oswaldo Cruz. Com extrema dedicação, risco de vida e amor ao próximo, resistiram e superaram campanhas negacionistas promovidas a partir do Palácio do Planalto.
Dois ministros da Saúde não resistiram às cotoveladas desferidas pelo presidente Jair Bolsonaro. Luiz Henrique Mandetta, exonerado em 16 de abril do ano passado e Nelson Teich, que se demitiu após 20 dias à frente do ministério para não conspurcar a biografia.
A história registrará a conduta do presidente da República como algo passível de enquadramento no rol nos crimes contra a humanidade. Durante 2020 S. Exa. se empenhou com ferocidade no combate ao isolamento social e à vacina. Sob o argumento da preservação das atividades econômicas, o presidente Jair Bolsonaro deu as costas ao mundo em defesa das próprias convicções. Ridicularizou o isolamento social e se recusou a usar a máscara quando em contato com membros do governo e admiradores. Simples gripezinha, que fazia amarelar os mais fracos.
Até o momento em que escrevo este artigo, o Brasil contabiliza aproximadamente 232 mil mortes e mais de 9,5 milhões de infectados. Na última sexta-feira foram 1.244 vítimas fatais. As esperanças estão depositadas nas vacinas CoronaVac, Pfizer, Oxford, já disponíveis em caráter emergencial. Existem outras usadas em grande número de países, como a Moderna, AstraZenec, SputinikV, Corovaxin, Johnson&Johnson.
O povo, alarmado pelo número de mortos e infectados, sem saber com segurança sobre o aparecimento de novas cepas, é incapaz de compreender a atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. Segundo informa o jornal O Estado, na edição de hoje, 6/2, “a Anvisa ameaça ir ao Supremo Tribunal Federal para barrar MP que libera vacinas”. Para diretor do órgão, o texto da Medida Provisória baixada pelo presidente da República, com dispositivo acrescentado no Senado, “dá cinco dias para a agência conceder aval emergencial a vacinas autorizadas em outros países, incluindo Rússia e Argentina”.
O mundo corre atrás de vacinas. Os países ricos fazem estoques monumentais. São cerca de 7,7 bilhões de habitantes expostos aos riscos da pandemia. Em nosso País aproximadamente 180 milhões deveriam ser vacinados nos próximos meses. A população paulista é de 46 milhões, dos quais 12 milhões vivem em São Paulo. Haverá vacinas para todos? Quem saberá me responder?
A Anvisa não se dá conta da gravidade da situação. Pensa e responde burocraticamente, com a velocidade do caminhão FNM. O presidente Jair Bolsonaro insiste em expedir mensagens recomendando a cloroquina. A realidade, porém, a tudo se impõe. Sem vacina na quantidade necessária o número de mortos continuará a subir. Até o meio do ano poderá chegar a 300 mil. Sou apenas mais um que se encontra em interminável fila de espera.
— Almir Pazzianotto Pinto é Advogado. Ex-Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho.