Fim da dança dos famosos na sucessão

A saída de outsiders da sucessão presidencial de 2022, como Hulk e Moro, deixa solitários no palco eleitoral dois candidatos que podem, como no recente passado republicano, polarizar a política brasiliana

Acabou a dança dos famosos. Luciano Hulk, Sérgio Moro e outras celebridades que estavam rondando o vazio político retiram-se do palco, deixando o lugar para os líderes populistas que dominam a cena, o presidente Jair Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador Ciro Gomes. Entretanto, segundo os especialistas do marketing eleitoral, ainda podem entrar outros candidatos, neste caso defendendo algo considerado improvável, mas que pode funcionar depois das tragédias da pandemia, como programas de governo consistentes e propostas de reformas relevantes que tirem o país do buraco.

Este seria um caso aparentemente na contramão do movimento atual, pois derivaria de um fracasso retumbante dos megacandidatos citados, abrindo espaço para figuras menos estridentes, mas que gerassem esperanças e confiança num eleitorado desiludido. Há exemplos robustos na História do Brasil de períodos populistas serem sucedidos por governos austeros e com propostas claras.

Jânio Quadros chega em São Paulo, logo após anunciar sua renúncia à Presidência da República, em agosto de 1961
O apresentador de tevê Luciano Huck anunciou que está fora da sucessão presidencial de 2022

Sem contar o que foram as sucessões dos governos fracassados de Fernando Collor, João Goulart, Jânio Quadros e do final melancólico das duas deposições do ex-presidente Getúlio Vargas, vale recordar um exemplo que, embora regional, é emblemático. No Rio Grande do Sul, do final da década de 1940 até os primeiros anos 1960, o espaço eleitoral gaúcho foi dominado por uma expressão improvável ante adversários carismáticos e populares, o ex-prefeito de Porto Alegre e duas vezes governador, Ildo Meneghetti, do PDS, que venceu nas urnas o trio de megaestrelas do PTB, Leonel Brizola, Jango e Alberto Pasqualini. Nada impede que algo assim ocorra no País, dando uma reviravolta completa no andar da carruagem.

Algo assim configuraria uma verdadeira alternância de poder, tão profunda e radical quanto foi a substituição do PT pelo bolsonarismo em 2018. A Nova República, inaugurada com a eleição de Tancredo Neves, em 1985, e consolidada na Constituição de 1988, com mais de 100 emendas, tem sido uma garantia efetiva da manutenção da sólida democracia brasileira; gerou a Carta Magna de 1988, derivada de um movimento inaugurado na campanha das Diretas Já. Aquela mobilização alternou com a ditadura e deu ao país uma constituição populista, que mal se aguenta em seu teor, mas que se tem demonstrado tão forte e legítima que sustentou a sólida democracia brasileira nestes últimos 30 anos. As nuvens da política se movimentam.

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