Uma postagem nas redes sociais de Bolsonaro, publicada no final da tarde de quarta-feira (14), mostra a total falta de respeito da família do presidente com ele e com os brasileiros. Politizaram a doença do próprio pai em busca de empatia e de reverter o desgaste perante a opinião pública.
A exposição do pai em uma situação fragilizada, explorando o lamentável atentado que sofreu em 2018, tentando jogar a culpa nos adversários políticos, é de uma sordidez sem tamanho. Ainda não se sabe ao certo a situação do presidente, há rumores de que é grave por isso mesmo a família deveria prezar pela serenidade e não sair politizando e transformando Bolsonaro em mártir, vítima dos adversários políticos.
Tentar faturar politicamente é, no mínimo, uma total falta de senso. Simplesmente lamentável.
Embora os médicos afirmem que o problema do presidente é sequela do atentado que sofreu em 2018, não dá para negar que a crise de soluço de Bolsonaro surgiu a partir da divulgação da compra da vacina indiana Covaxin e da negociação fracassada com a Davati Medical Supply para aquisição de 400 milhões de doses da AstraZeneca, que foram expostas em sessões da CPI da Pandemia e divulgadas pela mídia. Foi uma sequência extremante negativas do presidente.
Mas só foi o começo. A cada avanço nas investigações os soluços aumentavam. Esta semana, mensagens obtidas no celular do ex-PM Luiz Paulo Dominguetti, colocaram o presidente e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, na cena do crime. O que certamente o estressou mais ainda. Foram muitos os sustos nas últimas semanas. E soluços cada vez mais intensos. O que intensifica sustos e soluços é a convicção nos bastidores de todos os poderes em Brasília que os irmãos Miranda gravaram a conversa com Bolsonaro.
A partir dessas revelações e ameaças, um acuado Bolsonaro vem engolindo cada vez mais sapos, alguns bem indigestos como os espalhados por Brasília pelo deputado Luís Miranda, que denunciou irregularidades na aquisição da vacina Covaxin, descobertas pelo seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde, Luís Ricardo Miranda, que estariam registrados na tal gravação que atormenta Bolsonaro.
As afirmações feitas pelo deputado e seu irmão à CPI não foram desmentidas pelo presidente. Na ocasião, Miranda disse que Bolsonaro, ao tomar conhecimento das irregularidades envolvendo a compra da Covaxin, teria atribuído o que chamou de “rolo” ao líder do seu governo na Câmara, Ricardo Barros. Um batráquio nada apetitoso que vem sendo digerido a seco por Bolsonaro, obrigado a manter o deputado paranaense na liderança pra evitar outros sustos.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, é outro sapão que Bolsonaro vem deglutindo sem água, sem sal e sem pimenta. Afinal, Lira tem em sua mesa mais de 120 pedidos de impeachment do presidente. Basta assinar um para que o processo se inicie. Com a popularidade derretendo, o risco de não conseguir os 171 votos que precisa para se manter no cargo é grande.
Embora pareça um aliado fiel, Lira já fez ameaças ao presidente e, segundo revelou o deputado Luís Miranda, em entrevista ao Roda Viva desta semana, o ex-ministro Pazuello também teria sido alvo de ameaças por parte de Lira. Na entrevista, Miranda confirmou ter ouvido de Pazuello o relato de que um dos cabeças do Centrão esteve em seu gabinete no Ministério da Saúde para cobrar “pixulé” e, com dedo em riste, ameaçou tirá-lo da cadeira de ministro.
Apesar de não ter citado o nome do santo cobrador de “pixulé”, Miranda deixou escapar que a história fora contada aos senadores da CPI em reservado. Os jornalistas que participavam da entrevista apuraram que se tratava de Arthur Lira. Entre sustos e sapos, Bolsonaro nunca esteve em uma situação tão crítica desde que assumiu a presidência da República. As notícias sobre corrupção no governo bombaram a CPI e vêm ocupando grande parte nos noticiário político. O reflexo de todos esses fatos já começa a aparecer. As últimas pesquisas, divulgadas após os escândalos, apontam uma queda acentuada na popularidade do presidente. Com isso, Bolsonaro vê cada vez mais distante o sonho da reeleição.
A CPI certamente aumentou o nível de estresse do presidente, cada vez mais enrolado por consequência das suas próprias decisões. Espero que essa doença traga ao presidente a empatia que faltou ao longo da pandemia. E não sirva apenas para tentar resgatar um tiquinho da popularidade perdida por sua desastrosa gestão da pandemia.