Quando os historiadores se ocuparem desses tempos particulares do governo Bolsonaro, nada será mais emblemático do que o presidente, nos jardins do Alvorada, correndo atrás de uma ema com uma caixa de cloroquina nas mãos. Claro, ele oferecia uma espécie de espetáculo para a sua plateia, mas a cena não deixa de ser inspiradora: a infantilização estética do Estado e da tragédia que sua omissão ajudava a construir diante da pandemia do novo coronavírus. Naquela tarde do dia 23 de julho, 84 mil brasileiros já haviam falecido, vitimas da covid-19.
Não seria exatamente correto culpar Jair Bolsonaro por todas essas mortes e, menos ainda, pela crise econômica que se acentuou ao longo da pandemia no País. Paulo Guedes, hoje bem desidratado, não acertou a mão na economia apesar do seu amor pelo verbo, no melhor estilo de um camelô. Bolsonaro nunca exerceu, exatamente, a presidência da República. Parece não entender nem o que é governo e menos ainda o que é Estado. Atrapalha-se nas suas atribuições e, pelo menos é o que se nos apresenta de forma mais visível, vive para driblar a realidade temerária que adentra a vida de sua família, personificada na figura e nas ações do investigado Queiroz. Estranha sua fixação cega pela reeleição, pela permanência no cargo de presidente da República. Nada sugere que ele tenha empatia pelo Brasil e pelos brasileiros ou desejo evidente de fazer e realizar algo pela Nação.
Em agosto do ano passado, bem antes da pandemia, a Amazônia ardia em chamas, chamando, mais uma vez, a atenção do mundo. Já havia, naquele momento, um fator suplementar, ao qual o presidente Bolsonaro preferiu alhear-se, como fez e tem feito ao longo da nossa crise epidemiológica. Na reunião de Davos, em janeiro de 2019, onde ele apresentou-se, pela primeira vez, no cenário internacional, houve um entendimento no concerto das grandes Nações.
Os desafios do clima, a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade passariam a integrar a agenda da macroeconomia mundial. Depois de uma deselegante troca de declarações com o presidente da França, Emmanuel Macron, aureolada por uma estarrecedora ofensa à primeira dama francesa, oferecendo maior gravidade diplomática ao desastre ambiental na Amazônia, Bolsonaro reagiu, mais uma vez, perseguindo a ciência, a pesquisa, as instituições e os defensores da natureza, do meio ambiente e da sustentabilidade. Com a mesma infantilidade com que ele correu atrás das emas nos jardins do Alvorada, ameaçou transformar a grande floresta do Norte numa continental Serra Pelada, o mais criminoso dos garimpos já feitos no Brasil.
As pressões não tardaram. Bolsonaro, sempre na sua forma errática, reagiu transferindo para o comando do vice-presidente Hamilton Mourão, em janeiro desse ano, o Conselho Nacional da Amazônia, agora numa nova configuração e absolutamente militarizado. Não funcionou e nada sugere que venha a funcionar corretamente! Somente no início de julho passado o presidente da República entendeu que há uma vontade mundial bem maior do que as suas infantilidades, que o levam a correr atrás de emas.
A grande elite mundial e os endinheirados do bananal foram ao vice-presidente Hamilton Mourão para faze-lo entender que havia tocado o recreio. Deixaram bem claro como e quando a preservação da Amazônia e do meio-ambiente deviam ser conduzidos no Brasil. Com projetos e financiamentos expressivos, explicaram ao general como é que a banda ia tocar. O general sumiu. Logo veio a púbico um documento intitulado “Uma Nova Economia para Uma nova Era: elementos para a construção de uma economia mais eficiente e resiliente para o Brasil”, assinado pela WRI Brasil e a New Climate Economy e sob o patrocínio da Febraban, The Global Commission on the Economy and Climate, Gordon and Betty Moore Foudation, Ipea, Puc-Rio, COPPe-URFJ, dentre outros.
Há poucos dias o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, depois de receber uma visita do mesmo grupo de empresários e banqueiros que estiveram com o vice-presidente Hamilton Mourão, nomeou um grupo de parlamentares para coordenar a seleção de matérias urgentes sobre a questão ambiental em tramitação no Congresso que atendam as expectativas de uma economia sustentável. Não por acaso, o clássico jornal O Estado de São Paulo criou um selo chamado de Retomada Verde para acompanhar e divulgar o desenrolar desse tema no Brasil e no mundo. Vai aprendendo, Bolsonaro!