Em vez de pedir socorro ao Centrão, melhor seguir o exemplo do Mourão

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o presidente Jair Bolsonaro participam de inauguração de ponte entre Piauí e Maranhão Foto: Isac Nóbrega/PR

Desde o início de seu suposto governo, na verdade um amontoado de desacertos fantasiados de iniciativas, e com exibição mundial de incompetência no combate à pandemia, o capitão motoqueiro agora só pensa na reeleição. Não está certo da vitória, mas ainda acredita no plano de campanha que idealizou logo no início do mandato.

O objetivo é conseguir aprovar no Congresso projeto que restabelece o sistema de votação impressa, auditável, como ele repete. Isso porque todos sabem que tal sistema é anacrônico e realmente suscetível de fraude, como foi fartamente comprovado ao longo das últimas eleições, até a adoção do sistema digital.

Por isso Bolsonaro quer recolocá-lo em prática – o sufrágio de papel – e dele se beneficiar. O Brasil desenvolve, com êxito comprovado, há 25 anos, o sistema de votação eletrônica digital, criado entre nós e um dos mais perfeitos do mundo. A apuração total do pleito em todo o país, neste sistema, é concluída em poucas horas.

Bolsonaristas protestam querendo a volta do voto em papel – Foto Orlando Brito

Isso é o que não interessa ao motoqueiro. Para ele só é importante uma eleição se for passível de fraudes. Se for imune a irregularidades causa-lhe arrepios. Os brasileiros honrados não pensam como ele. Bolsonaro então partiu para obter apoio do chamado Centrão. Na verdade, um centrinho de reunião de políticos sofríveis. Lá cabe de tudo, sendo um grupo organizado e ambicioso. Se conseguir mudar o sistema de votação e tendo apoio do Centrão, o presidente vai acreditar até na reeleição.

O desacreditado messias afirmou que se o sistema eleitoral não for mudado para como era antes –  votação impressa e auditável – não haverá eleições. Não adianta querer assustar os brasileiros afirmando que se tais regras não forem alteradas não haverá eleição. Como ficou pretensioso esse Bolsonaro.

E se tal loucura acontecesse, ele teria seu mandato prorrogado na presidência? Não haveria mesmo eleições no Brasil? Qual maluco vai acreditar nisso e que país seria este? Bolsonaro não sabe. Passou 20 anos na Câmara e 2 no Planalto mas nada aprendeu sobre as leis da política.  Xingar, agredir e ofender não conta, isso ele já sabia sobejamente.

Recente noticiário jornalístico criou vasta surpresa e escândalo nos meios políticos e jurídicos, na sociedade em geral. O jornal O Estado de São Paulo noticiou que o Brasil poderá ficar sem eleições se não houver a mudança do sistema eleitoral, desconsiderando inclusive o Congresso. Uns acreditaram  no absurdo, muitos não, mas houve um debate escandaloso, envolvendo ministros militares. E tal ordem teria emanado do Ministro da Defesa, em recado a políticos.

Aos brasileiros e às autoridades a impressão era de uma hipótese cretina, lançada ao público como teste e provocação. As autoridades militares envolvidas no projeto negaram radicalmente tal possibilidade. A onda se dissipou mas algum receio permanece. Os ministros militares destacaram o óbvio: questões políticas e eleitorais são decididas pelo Congresso. O ministro da Defesa demonstrou indignação e denunciou o absurdo.

Bolsonaro e Mourão – Foto Orlando Brito

O vice-presidente Hamilton Mourão manifestou claramente sua posição sobre o caso, indagado pelos jornalistas, e é conveniente lembrar suas palavras.

Afirmou:

“É lógico que vai ter eleição no Brasil. Quem é que vai proibir eleição no Brasil? Mesmo sem o voto impresso vai haver eleições”. “Por favor, gente, isso aí… Nós não somos república de bananas… “. “Haverá eleição mesmo que a proposta do voto impresso não seja aprovada”. “Não estamos no século 20, mas no 21. É preciso entender…”.

Bolsonaro, promotor e maior interessado – ou o único – na proposta de retorno ao antigo sistema eleitoral, terá lido ou ouvido as declarações do Vice Presidente do Brasil, Hamilton Mourão? Se o fez, já sabe das regras.

— José Fonseca Filho é jornalista

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