Para incorporar o conceito de Lifelong Learning, que seria o do Aprendizado ao Longo de toda a vida, independente da idade ou da carreira, precisamos mudar nosso mindset (ou “mudar a mentalidade” como se dizia antigamente), incluindo aí alunos, professores ou “aprendentes” de todos os tipos.
Essa mudança de mentalidade é fundamental pois, sem a certeza dos ganhos e a confiança no processo, o individuo não será capaz de reconhecer que é capaz!
Precisamos incorporar alguns conceitos novos e abandonar pré-conceitos antigos, que nem consideramos assim, ao contrário, consideramos como “normal”.
Alguns alunos podem até duvidar, mas antigamente, a escola era encarada como uma bela diversão. Na Grécia Clássica, estudar era uma atividade possível apenas para aqueles privilegiados que não precisavam trabalhar. Daí que o nome scholé, depois schola no latim, designava lazer, descanso ou alguma atividade feita na hora do descanso, como… estudar! Do que se fazia nessa hora derivou o local onde as pessoas se divertiam, quer dizer, estudavam. Portanto, quando fazemos da sala de aula um lugar prazeroso, estamos, de fato, retornando às origens. (Dicionário Etimológico).
O primeiro conceito novo (nem tão novo assim) é que o foco do processo Ensino-Aprendizado ou do processo Educação, é o aprendizado. Ensino é um dos meios para isso.
O segundo conceito a reformular é que o aprendizado não ocorre apenas em salas de aulas físicas e nem apenas com um professor transmitindo conhecimento. Aliás, o professor sempre vai levar desvantagem se tentar competir com a Internet.
Temos que ter a consciência que a nossa Ignorância é muito maior do que o nosso conhecimento (“Só sei que nada sei”, já dizia Sócrates), e que um aprendizado fundamental para todos é o de aprender a buscar, selecionar, classificar e comparar informações, estabelecendo conexões com conhecimentos anteriores e, enfim, aprendendo.
O papel dos professores, passa a ser mais o de curadores de conteúdo, realizando as atividades acima, filtrando e priorizando as melhores, desprezando as “Fakes” e “cutucando” e provocando os aprendentes.
Esse conceito vale para todos os níveis de aprendizado, desde o dos adultos pós faculdade e nas universidades, em cima, quanto o das crianças, em baixo, nos vários segmentos de aprendizagem.
Vamos também recuperar a turma que evadiu das escolas em anos anteriores (dropout recovery), ou não pôde concluir alguma etapa (Fundamental, Médio ou Superior), por motivos de renda, gravidez (o maior motivo de abandono por adolescentes), necessidade de trabalhar, desmotivação, desinteresse ou outro qualquer.
Não podemos nos acomodar em um mundo em permanente e acelerado movimento. A reação da Universidades Públicas (com honrosas exceções) à pandemia pode ser considerada no mínimo lenta ao paralizar todas as atividades de aulas por que um percentual de alunos teria desvantagem sobre outros, em vez de tentar de algum modo dar cobertura para esses alunos, como fizeram as universidades privadas e algumas públicas com mais iniciativa.
Sair da Ignorância para o conhecimento é uma decisão de trilhar esse caminho entre dois extremos. As ferramentas de EaD, ensino híbrido, tecnologias educacionais, Inteligência Artificial (IA), Realidade Virtual e Aumentada (RV e RA), Games, simuladores e outros estão ai e não podemos ignora-las.
Recomendo aos nossos professores (vale pra todo mundo) a leitura de três livros:
A) 21 Lições para o Século XXI, de Yuval Noah Harari,”
A Revolução Industrial deixou-nos como legado a teoria da linha de produção na educação. No meio da cidade existe um grande prédio de concreto dividido em muitas salas idênticas, cada sala equipada com fileiras de mesas e cadeiras. Ao soar uma campainha você vai para uma das dessas salas junto com outras 30 crianças que nasceram no mesmo ano que você. A cada hora entra um adulto e começa a falar…”
Absurdo, não é? A propósito, recomendo também a leitura de artigo que escrevi em 1996 (!!) e publicado pela FAPESP em
https://namidia.fapesp.br/educacao-e-tecnologia/19374.
B) Interligência Artificial, de Kai-Fu-Lee,
“Para ser claro, acredito que a educação é a melhor solução de longo prazo para os problemas de emprego relacionados à IA que enfrentaremos. Os milênios anteriores de progresso demonstraram a incrível capacidade dos seres humanos de inovar tecnicamente e de se adaptar a essas inovações , treinando-se para novos tipos de trabalho.”;
A IA é uma onda que veio pra ficar. Vamos surfar nessa onda ou tentar pular por cima dela?
C) O Mundo ainda é jovem, de Domenico de Masi,
“… o progresso tecnológico e a produtividade crescem em velocidade exponencial. Mas o efeito conjunto da Lei de Moore, do reconhecimento de voz, das plataformas de software, da nanotecnologia, da robótica, da inteligência artificial comporta o que alguns chamam de Jobless growth, ou seja, o crescimento sem emprego…”; e
O crescimento exponencial não faz parte das nossas projeções pessoais. Nossa mente funciona muito melhor com o crescimento linear, sem choques ou rupturas. Só que a tecnologia provoca rupturas nessas projeções conformadas.
Um ultimo exemplo: no início do século XX, o telefone inventado por Graham Bell iniciava seu crescimento. Uma profissão promissora foi logo percebida – a telefonista. Com a complexidade de conectar ligações de origens diferentes, muitos começaram a projetar a profissão de telefonista com uma das mais relevantes e disputadas para o século XX. Bem, todos sabem como essa projeção terminou.
Esse conjunto de idéias e livros serve para nos ajudar a enxergar o futuro com algumas lentes, nem convergentes, nem divergentes, mas complementares.
E a educação precisa ser para todos, de todas as idades e sempre!
*Paulo Milet. Formado em Matemática pela UnB e pós graduado em Adm. pública pela FGV RJ – Consultor e empresário nas áreas de Tecnologia, Gestão e EaD. Sócio Diretor da INLAGS ACADEMY.