Que as massas fazem milênios que aceitam e reverenciam o Absolutismo é fato; que as minorias educadas sonham com o Absolutismo Iluminado, também.
Ao leste e oeste dos limites do Tratado de Tordesilhas, assinado entre os impérios da Espanha e Portugal para distribuir as vastas terras subcontinentais usurpadas aos indígenas, se mantêm essa preferência secular.
As monarquias sempre buscaram unir o poder político, o religioso e o militar e essa inclinação sempre sacudiu as sociedades. O desprezo a educação do povo foi sempre a quarta mola de sustentação do absolutismo.
Para manter a monarquia firme na Inglaterra de Henry VIII houve de ser criada uma nova igreja para que o rei continuasse seus relacionamentos amorosos sem problemas para a estrutura do Poder, quer mantinha analfabeta a quase totalidade da população.
Na América do Sul não foi diferente. Os impérios da Espanha e Portugal uniram esforços para expulsar os jesuítas que complicavam os assuntos de estado educando e conscientizando aborígenes nas missões.
As monarquias são um quase sinônimo de absolutismo, o “quase” pelas monarquias europeias e asiáticas que recentemente dividiram o poder com estruturas plebeias eleitas.
No Brasil, se bem a República está consolidada faz décadas, nunca se abandonou popularmente o culto a monarquia. A todo grande artista, artista, cozinheiro, borracheiro, traficante ou comerciante se cola o titulo de rei ou rainha. É para destacar que esse personagem é considerado melhor, superior. Um plebeu nunca seria o melhor ou superior, é a mensagem subliminar dessa escolha.
Esse absolutismo é combatido “pero no mucho”.
As pessoas mais preparadas e inteligentes sonham com o Absolutismo Ilustrado, algo assim parecido com o biblicamente elogiado Rei David. Mas ao longo da história da Humanidade esse Absolutismo Ilustrado mostrou-se mais raro que os trevos de quatro folhas.
Sem essa sorte, a minoria pensante e preparada acaba por defender ou encontrar consolo num sistema democrático. Uma estrutura dificilmente elogiável pelas suas distorções ao espírito da democracia e a sua frágil defesa dos interesses e necessidades do povo, principalmente da educação.
Um sistema legalmente democrático, porém operacionalmente lento ou incompetente, além de ser em vários campos omisso ou corrupto. Um sistema onde corporativismo fardado coloca milhares em postos da máquina pública que deveriam ser ocupados por civis capacitados para os cargos. Um sistema onde o corporativismo civil esmaga a meritocracia por conveniência setorial ou política partidária.
É um sistema legalmente democrático onde se respeita a letra da Justiça, nem que seja as vezes, contraria ao espírito da Justiça. Assim delitos de corrupção, em todos os níveis – de grandes de autoridades ou pequenos de indivíduos – são tratados com mais leveza que os delitos de homicídio ou roubo, quando a corrupção é roubo e conduz frequentemente a genocídios.
Como pode ser justo um sistema onde 35.000 pessoas podem ter foro privilegiado?
“É o que temos’, é a popular definição para aceitar um fato ou um processo. É o que temos hoje ao Sul do Equador, porem é “menos pior” que ditaduras que matam, torturam, censuram mantendo ou agravando a desigualdade social aberrante sem melhorar a educação. As ditaduras, por serem militaristas sempre buscam inimigos, internos ou externos a serem silenciados. Nunca haverá com elas nem justiça nem paz. Vão de retro ditaduras!
O que temos pode ser melhorado. Deve existir empenho da sociedade consciente e poderosa para empregar a arma mais poderosa para a evolução humana: educação. Os setores mais influentes devem acabar com a aberração dos foros privilegiados para refugio de criminosos. Votar é um direito e não um dever. Ou seja, fim do voto obrigatório.
A maioria da população sendo mais educada e melhor informada saberia distinguir as promessas impossíveis de cumprir, e estaria apta para fiscalizar os eleitos em todos os níveis. Assim poderiam cair rapidamente as máscaras dos falsos Messias, pastores inmorais, as fantasias de ditadores disfarçados de democratas, as fardas dos infiltrados entre os constitucionalmente indicados e pagos para defender o Estado.
Valores como conhecimento e integridade devem ser mais importantes que características como cor de pele, preferências sexuais, peso, altura, origem, para preencher quadros em governos federais, estaduais e municipais, e também em cargos em empresas. Com bandeiras de inclusão as vezes se dribla o justo e necessário para a sociedade, assim como se engana politicamente com as cores da bandeira e se invoca falsamente e o nome de Jesus. Todo cuidado é pouco!
Se os Três Poderes passassem a dedicassem todos os esforços para mudar, seria possível mudar muito, para melhor. Se os meios de comunicação (TV, mídias sociais, rádios, sites virtuais), passassem a ser mais utilizados para informar, ensinar, educar do que entreter vulgar ou brutalmente, tal vez exista esperança.
Devemos abandonar o “acaba em pizza” (a tolerância no mais alto degrau) e medidas para “inglês ver” (maquiagem para a falta de ação dos administradores portugueses supervisados pelo Império Inglês durante a campanha napoleônica).
Vamos melhorar para valer o que temos! É possível com educação, educação, educação. Ou seguiremos entoando aquele samba canção do Antônio Maria: “…vou pela vida/ de fracasso em fracasso…” .
** Guillermo Piernes – Escritor. Foi jornalista e diplomata