Tive uma amiga feminista atuante. A moça comandava todas as manifestações do Dia Internacional da Mulher, no quarteirão fechado da rua principal da cidade. Vestida de roxo claro (que, aliás, já foi violeta, púrpura, bonina e lilás, a depender do gosto e da época…) de megafone em punho, atraía os transeuntes gritando palavras de ordem, reunindo a companheirada e distribuindo panfletos aos montões.
Também era ela quem dirigia o espetáculo sobre a opressão das mulheres socialmente excluídas há séculos do pleno exercício dos direitos civis, trabalhistas e políticos em geral, encenado para os que passavam com pressa, homens e mulheres (arrastando suas crianças, vindas da aula ou do dentista) na hora do almoço em casa. Invariavelmente. Ninguém parava. Todo mundo tinha pressa. Viva o Dia Internacional da Mulher!, gritava ela a plenos pulmões.
“Mulher era reservada a ‘enfeitar palanque’ dos que ganhavam as eleições, ou no dia da posse, ou nos grandes comícios de campanha”, explicava pacientemente nas reuniões que se seguiam ao Ato Público solene.
Todo 8 de março, lá estava ela na mesma esquina, com o mesmo fervor militante. Ano após ano: aposto até que ano-que-vem, mesmo com a pandemia, mesmo já tendo mais de 70 anos de idade, poderemos todos vê-la no mesmo quarteirão fechado, com o mesmo megafone, com a mesma determinação de quem nunca vai deixar de erguer bem alto a bandeira da luta feminista por direitos iguais.
Iguais?!
Minha amiga tinha dois filhos: Joãozinho e Luiz. O Luiz sempre arredio, quieto num canto – aliás, pensando bem… nunca vi o Luiz acompanhar a mãe onde quer que fosse.
Joãozinho não: era um capeta. Desses meninos inquietos, mexendo em tudo que não era de sua conta, não parava quieto um minuto em nossas reuniões políticas, correndo de um lado para o outro, tirando a atenção das pessoas e agredindo quem chegasse por perto. Um demônio! Ou então se enfiava entre as pernas da mãe e começava a querer pegar no rosto dela, os dedinhos afoitos, espertos, quase a impediam de falar, e ela…nada! Nada! Nunca vi a mãe nem mandar que ele parasse de encher o saco dos outros. As pessoas saiam da sala invariavelmente. Ninguém reagia.
Um dia, para espanto de todas, avisei: “Joãozinho, não vem pra cima de mim que te dou um peteleco. Não me enche o saco.”E a pestezinha feito um azougue me sentou um chute na canela…
Revidei: “Você me deu com sua força, vou te dar com a minha!” E quase parti a perna dele.
Olhares constrangidos e acusadores para mim.
Saí do recinto.
……..
Diante do assédio do deputado contra a “pequena e subjugada” deputada estadual do PSOL de São Paulo não consigo deixar de pensar no que acima relatei e de voltar a meu tempo de infância, quando os meninos, sob o olhar complacente de suas mamães zelosas do machismo dos pequenos heróis que criavam, ouviam dos outros meninos, os monstrinhos criados pelas outras:
– Filho da mãe!
– E a mãe, nada?!