O Brasil já teve uma das melhores diplomacias do mundo, reconhecida internacionalmente e responsável pelo prestígio do país na comunidade das nações. Resultado do trabalho do Barão do Rio Branco, destacado como um dos grandes promotores da diplomacia brasileira. Além do quadro de diplomatas de carreira do Itamaraty. Mas tal realidade está em triste processo de liquidação, capitaneado pelo capitão Bolsonaro.
O presidente daqui cometeu um ato inédito na diplomacia mundial. Indicou o péssimo ex-senador e ex-prefeito do Rio, Marcello Crivella para o cargo de embaixador do Brasil na África do Sul. Devido ao que considera suas outras qualidades para o cargo: ser evangélico e ter sido um corrupto eficiente. Passou uma temporada na cadeia e agora está preso em casa, inovação da justiça brasileira para bandidos privilegiados. Ele é acusado de chefiar um QG da propina em sua gestão na Prefeitura carioca, cujo esquema arrecadou R$ 53 milhões.
Mas o presidente tem outros objetivos para agradar Crivella e representar seu governo, não o Brasil, na África do Sul. O capitão quer agradá-lo para receber em troca a maioria dos votos dos evangélicos do Brasil, em torno de 50 milhões de pessoas, e ainda 20% dos parlamentares do Congresso. Os evangélicos cortejados por Bolsonaro tem um partido político próprio e nada religioso, denominado Republicanos.
Outro destaque curioso é que o futuro embaixador não pode viajar para seu “novo posto” porque seu passaporte foi recolhido pelas autoridades judiciais. Enquanto isso o pretenso diplomata exulta de alegria com seu futuro posto. Isso se a justiça brasileira vier a liberá-lo e devolver seu passaporte. Ai ele fará um belo voo Rio – Cidade do Cabo e vai rezar durante o percurso, pedindo para que os evangélicos não esqueçam o inédito compromisso eleitoral.
O presidente Bolsonaro não quis saber de nada, simplesmente enviou o agrément para o governo sul-africano e está esperando a resposta. Crivella ainda corre o risco de vir a ser embaixador, mas também pode acabar ficando por aqui. Trata-se de uma questão política, eleitoral e religiosa, mas também de tirar vantagem de uma situação esdrúxula. O capitão presidente pretende se reeleger e angariar votos através de um curioso sistema inter-continental. Daí Bolsonaro espera receber muitos e muitos votos.
Mas essa não foi a primeira estripulia do capitão na área da política internacional, onde opera o Itamaraty. Quis mandar um de seus pimpolhos de alcunha Zero para ser o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, onde já havia um embaixador despreparado. O Zero não havia estudado em Harvard mas fez mestrado de cheeseburger no Mac´s. O pai ainda indicou para o cargo de chanceler um diplomata pretensioso, Ernesto Araújo, do time de caçadores de fantasmas comunistas do governo Bolsonaro.
De sobra, os evangélicos ainda dispõem de muitas emissoras de televisão e templos majestosos no Brasil. É uma Igreja poderosa e rica, atuante também na África mas em atrito com o governo de Angola. Todos esses problemas resultarão em mais encrencas, se até lá a Justiça não devolver o passaporte do Crivella, transformado em esperança de Bolsonaro e seus seguidores.
Sem passaporte, o comandante evangélico ficará quietinho em casa, ou poderá voltar para a cadeia. Se virar mesmo embaixador, não vai cuidar da diplomacia brasileira, e sim dos negócios evangélicos e da eleição de Bolsonaro. A ideia é que o “embaixador” Crivella ajude na solução dos problemas da Igreja Universal no continente africano, com a força do cargo, e esta Igreja colabore para a reeleição de Bolsonaro, com seu contingente de evangélicos.
— José Fonseca Filho é Jornalista