O Brasil deve chegar à triste marca de 240 mil mortes por Covid-19 nesta terça-feira de carnaval. Se os números de óbitos continuarem no mesmo ritmo, no início de março serão mais de 250 mil. E ao invés de investir na vacinação em massa da população o presidente Jair Bolsonaro está preocupado em facilitar o aumento da circulação de armas nas ruas do país. Não é apenas um absurdo.
Impressiona, por si só, essa obsessão com armas e munições. É a única promessa de campanha que Bolsonaro faz questão de cumprir. As demais – combate à corrupção e apoio à Lava Jato; reformas estruturais; acabar com a reeleição; fim da prática do toma lá dá cá com o Congresso – foram todas esquecidas. Aliás, mais que deixadas de lado, o presidente tem feito justamente o contrário de tudo que prometeu durante a campanha de 2018. Resta saber o que está por trás de tanto interesse em armas. Uma boa reflexão a ser feita pela população e, principalmente, pelas instituições.
Não é a primeira vez que o Governo Bolsonaro tenta mudar as regras sobre armas. Além dos quatro decretos publicados semana passada flexibilizando os limites para compra e estoque de armas e cartuchos, o presidente já havia assinado outros. O primeiro decreto foi em maio de 2019, alterando as regras para posse e o porte de armas no Brasil. Rejeitado pelo Congresso, acabou transformando-se em um projeto de lei de autoria do senador Major Olímpio, ainda em tramitação.
No final do ano passado o governo voltou a favorecer a compra de armas. Desta vez por decisão da Camex (Câmara de Comércio Exterior), ligada ao Ministério da Economia, zerando a alíquota de imposto para importação de armas. Uma aberração que tropeça no Supremo Tribunal Federal.
Enquanto o governo gasta tempo e energia com uma questão secundária para a população, a vacinação começa a ser suspensa em vários municípios por falta de doses. O Rio de Janeiro é um desses locais. O prefeito Eduardo Paes já avisa que o estoque acabou. Idosos entre 80 a 84 anos vão continuar esperando a chegada de novas vacinas.
A prioridade do governo federal nesse sentindo parece mera propaganda para iludir a população. Tanto que foram gastos até agora apenas R$ 2,21 bilhões dos R$ 24,5 bilhões reservados para a compra, desenvolvimento ou produção de vacinas contra a Covid-19. Essa falta de prioridade na saúde pode trazer muitos problemas para o ministro Eduardo Pazuello. A decisão do ministro do Supremo Ricardo Lewandowski no inquérito que investiga a responsabilidade de Pazuello na crise da falta de oxigênio em Manaus certamente vai tirar o sono do obediente general.
Lewandowski autorizou depoimentos de funcionários da Pasta e de secretarias de Saúde do Amazonas e de Manaus; acesso a e-mails; a informações sobre fornecimento e transporte de oxigênio; e a informações sobre gastos com distribuição de medicamentos para tratamento precoce e que não têm eficácia comprovada contra a Covid. Se comprovada a inépcia do governo, Pazzuelo pode virar réu e terá sua cabeça entregue numa bandeja de prata por Bolsonaro, que não vai assumir qualquer responsabilidade nesse assunto.
É o governo Bolsonaro flertando com a morte dos brasileiros. E ainda há quem diga: ‘fechado com Bolsonaro até 2026’. Só se for dentro de um caixão.
—