O ministro da Saúde, Luiz Mandetta, se foi. Não é o fim do mundo se todos pensarem em quem se gosta antes das teorias econômicas e das polêmicas ideológicas. A verdadeira política são as relações de poder que estabelecemos com os outros, não o circo que nos cerca. O presidente Bolsonaro vai ser impinchado, afastado etc? Não se sabe, no entanto se você, seus colegas, familiares e todo o resto de nós todos, estaremos vivos para ver e participar do desfecho? No quesito Covid-19, a ignorância já se revelou além do que merecemos. Este é o ponto de virada do nosso tempo, não o “combate” – figurativo decadente de uma civilização armada até os dentes sem poder explodir o vírus.
É um momento radical, onde até inimigos dependem uns dos outros. Um entendimento errado leva ao nazismo – de esquerda? Direita? Importa, neste momento, que ele é o egoísmo em último grau, filho do medo do sofrimento desconhecido. A única coragem exigida de todos é a de pensar com a própria cabeça e a de manter a respiração.
No ápice da curva da pandemia, governos e prefeituras discutem flexibilização do isolamento. Segundo pesquisas, nem autônomos e informais apoiam, e a maioria, mesmo em caso de recessão, prefere ficar em casa. Vacinas, só daqui a pelo menos 12 meses. O fato de alguns sistemas de saúde terem se preparado melhor devido a medidas preventivas adequadas, aplicadas no timing certo, não resolve que, mesmo que hospitais voltassem a estar disponíveis, o coronavírus contaminará, será transmitido, sequelará e matará.
Abrir escolas e jogar a responsabilidade em jovens que se deslocam no transporte público, diariamente, para se aglomerar é um crime. Nem um ano de meditação de massas daria conta da atenção plena necessária. Podem ser muito afetados e transmitir massivamente. Quem fez o dever de casa, abrindo, pode acabar reprovado em saúde e em economia. Não é preciso ver para crer. A morte, em todo o País, está morando ao lado.
Sejamos 200 milhões de Mandettas, pouco importa o que ele fez no verão passado. Todo santo tem um passado, todo pecador tem um futuro. Como sê-lo? A Organização Mundial da Saúde publicou mandamentos para reabertura econômica: garantir que a transmissão está controlada; que o sistema de saúde é capaz de detectar, testar, isolar e tratar todos os casos, e rastrear os infectados; elaborar plano contra a importação de casos; e que a sociedade esteja educada e engajada às novas normas. Seguir a OMS, convencer o próximo a fazê-lo e exigir das autoridades o mesmo é o caminho da vida. O outro é o da dúvida.
O mercado está ansioso para retomar, mas não sabe se seria seguro. Saúde, vida e economia andam juntas, ele não pode quebrar, porém há abundância para manter a todos, inclusive o Congresso Nacional tem aprovado meios. Vamos exigi-los, são os impostos que todos pagam. Vírus convivendo com negócios, por meio de paliativos, é desnecessário. Mas tome sua cloroquina, sopa de cabeça de peixe e chupe um limão de manhã. Se dá confiança, que mal há? Afinal, a conversa de que Covid-19 é dos grupos de risco foi desmentida pelos fatos. Contra estes, nem a mais clássica novela mexicana ou o mais estridente chilique, como os que assistimos nos últimos dias — que raio de líderes são estes?! Viva a responsabilidade que transcende o poder e o despertar que se faz História.