Covid-19 brigando com os números

Com a novidade da média móvel, será informado também que a média dos últimos 7 dias está em 1032 e que uma semana atrás estava em 1030 e há duas semanas em 1001. Opa! Então está aumentando! Não é bem assim. A média móvel serve exatamente pra isso.

Recentemente a Rede GLOBO passou a divulgar os números da COVID-19 em um formato mais detalhado e que melhorou bastante o nível de informações. Mas alguns problemas persistem. E não é culpa da GLOBO! Qual é o grande problema? A defasagem e (im) precisão das informações!

Hoje (dia 10/07), dois números estão sendo divulgados com destaque (estou usando os números oficiais do Ministério da Saúde): 45.000 novos casos, superando 1.800.000 no total de casos e 1.214 novos óbitos, superando 70.000 mortes!

Com a novidade da média móvel, será informado também que a média dos últimos 7 dias está em 1032 e que uma semana atrás estava em 1030 e duas semanas atrás em 1001. Opa! Então está aumentando! Não é bem assim. A média móvel serve exatamente pra isso. Movimentar o cálculo da media de 7 dias ao longo de um certo tempo e verificar as tendências.

Então temos que nas últimas 6 semanas (42 dias) as médias móveis diárias foram de 1030 (média das médias) desde a semana que terminou em 29/05. Isso mostra claramente o tal platô (quase um planalto!).

Mas dá pra tirar alguma informação positiva desses números? Dá sim. Em números absolutos, temos uma reta, com pequenas variações em torno da média de 1030 óbitos/dia, indicando, à primeira vista, uma estabilidade. Mas, os percentuais foram inventados para termos informações relativas.

Então, se na semana que terminou em 6/6, a média móvel foi de 1021, isso significa 2,87% do total de óbitos (35.590) até aquela data. Por outro lado, se hoje, na semana encerrando em 10/07, temos 1032 de média da semana, isso representa “apenas” 1,46% dos 70.400 óbitos acumulados. Em resumo, significa que a taxa de crescimento dos óbitos, semana a semana, está diminuindo e, quando chegar perto de 0%, significa o controle da pandemia.

Em quanto tempo? Essa é a pergunta que não quer calar.

Muito difícil fazer previsões de mais longo prazo. No Brasil, atualmente, o número de casos no interior está crescendo mais que nas capitais, que começam a cair. Se não houver uma recaída e nem uma abertura muito escancarada, vai ser possível enxergar melhor daqui a 30 dias, em meados de agosto.

Cemitérios lotados de mortos vítimas da Covid

Mas o mês de julho já está “fechado”. Os óbitos que serão registrados nos próximos 20 dias (entre 15.000 e 20.000) já aconteceram. Só não chegaram os registros efetivos.

É como dirigir olhando o retrovisor. Você percebe uma curva somente depois de ter passado por ela! Na verdade, todos esses números que citei acima, aconteceram entre duas e seis semanas atrás em relação a cada data referenciada. Então pode ser que já estejamos descendo a ladeira e ainda não percebemos (um bom indicador pode ser a ocupação de UTIs).

Para finalizar:

O número de casos está totalmente subdimensionado, porque nossa testagem é muito pequena, apesar de ter aumentado ao longo das últimas semanas. O melhor número (mais preciso) em relação a casos de contágio foram revelados por pesquisa excelente da Universidade de Pelotas, com uma amostra perto de 100.000 pessoas. Nessa pesquisa foi identificada uma taxa de letalidade (óbitos/casos) de 1,15%. Então, se temos 70.000 óbitos, o número de casos real seria de 6.000.000. Mas, se 20.000 óbitos ainda não foram somados, o total de casos na verdade já está perto de 8.000.000. A “sorte” é que a maior parte é de assintomáticos ou de casos leves.

Deu pra entender? Quando a TV informa que foram registrados mais 1000 óbitos hoje, significa que 100.000 pessoas foram contaminadas entre 4 e 6 semanas atrás! E se, na última semana foram registrados 300.000 novos casos, mais 3.000 óbitos já estão “contratados” para a próxima!

Dificilmente sairemos dessa com menos de 120.000 óbitos lá pelo mês de setembro (não estou sendo pessimista). Precisamos melhorar em muito nossos sistemas de informação para podermos tomar decisões mais embasadas e tempestivas. Enquanto isso, e enquanto não tivermos remédios comprovados e nem vacinas disponíveis, vamos seguir os conselhos daqueles que priorizam a ciência e vamos nos cuidar ao máximo e seguir o protocolos devidos.

*Paulo Milet. Formado em Matemática pela UnB e pós graduado em adm pública pela FGV RJ – Consultor e empresário nas áreas de Tecnologia, Gestão e EaD.

Deixe seu comentário