Tenho escrito muitas vezes que a Covid-19 mexeu em tudo e não sabemos ainda até que ponto chegará. Provocou de maneira mais dramática a saúde, com uma crise sanitária que pegou todos os países de surpresa, mostrando que raros tinham estrutura para enfrentar os problemas que surgiram. Gerou em seguida uma crise econômica que provocou a quebra das pequenas empresas, com repercussões na organização da vida nas cidades, no transporte, nos empregos, com todos os dramas familiares que se pode imaginar, a cujas lágrimas é difícil ter coração para resistir.
Suas dificuldades começaram no desconhecimento do vírus que provoca a Covid-19 e na busca de uma denominação para ele. Começou com uma conotação política, o exótico Trump acusando outro país, seu competidor, de ter artificialmente criado o vírus para destruir os EUA. A imprensa logo deixou de usar o designativo topográfico do vírus e o chamou de Coronavírus — a cuja família pertence —, seguindo-se o apelido de Corona, tecnicamente 2019-nCov, HCoV-19 ou hCoV-19 e logo vírus SARS-Cov-2, que gerou variantes, designadas por várias linhas de nomenclatura — 19A, 19B, 20A, 20B, 20C, ou L, O, V, S, G, GH, GR. As linhagens mais perigosas passaram a ter vários números: a B.1.1.7 da Inglaterra, a B.1.35 da África do Sul, a P.1 do Amazonas.
Como nem os médicos sabiam ao certo denominá-las, fizeram a OMS recorrer às letras gregas. Desta maneira a nossa — infelizmente — variante do Amazonas é Gama; a sul-africana, Beta; a inglesa, Alpha; e as indianas, Delta e Capa. E quando acabar o alfabeto grego naturalmente irão ao alfabeto aramaico, começando por YUDH, a menor de todas as letras, invocada por Cristo, citado por São Mateus, quando disse que passarão o Céu e a Terra e não passará um YUDH da lei, afirmando que não veio para aboli-la, mas para levá-la à perfeição.
Agora surge um estudo da Fundação Lemann dizendo que o Brasil é o 2º país do mundo onde as escolas mais fecharam — 260 dias — e como consequência os alunos perderam a oportunidade de adquirir mais conhecimento. Logo a educação, o maior problema do Brasil e mais difícil de ser solucionado, porque, a meu ver, iniciou no caminho errado. Em meados do século passado, os países asiáticos optaram por primeiro investir na educação e, a partir daí, acelerar o processo de desenvolvimento, dispondo de recursos humanos capazes, com inovação, tecnologia e ciência, e crescer.
Foram os modelos japonês, chinês e finlandês que transformaram os Tigres asiáticos — Coréia, Hong Kong, Singapura e Taiwan — em potências econômicas. Já o Brasil quis primeiro crescer e depois educar, embora desde Platão e Confúcio se soubesse que o caminho para uma sociedade justa é a educação. Educar primeiro, ciência, inovação, tecnologia e formação de recursos humanos.
Assim, verificamos que o Coronavírus mexeu com tudo, e o Brasil foi um grande atingido.
Já escrevi que primeiro tínhamos de vacinar os professores. Sem vacinação, quando houvesse aulas, eles, se atingidos pela doença, a transmitiriam aos alunos, estes aos pais e a todos da família.
Tenho um exemplo em casa. A professora se infectou, passou a nove alunos, entre eles dois bisnetos meus; estes passaram ao meu neto e este, à esposa. Nos custou um mês de preocupação e noites maldormidas.
Vamos nos cuidar. Máscara, vacina, nada de festas. E esperar que Deus não nos deixe nem um YUDS dessa horrorosa medusa.
— José Sarney é ex-presidente da República, ex-senador, ex-governador do Maranhão, ex-deputado. Escritor. Imortal da Academia Brasileira de Letras (Artigo publicado também no jornal O Estado do Maranhão)