Conversa no Quiosque

– É um privilégio sentar aqui com vocês e olhar a vida, nesta quinta-feira.

– Bom é olhar as pessoas passando com suas preocupações, sem saber que estamos observando.

– Observando e comentando.

– Mas como não comentar esse zoológico urbano?

– Agora um minuto de silêncio: vamos deixar a princesa passar.

– Ela vem com o seu lulu. Vou perguntar o telefone do cachorrinho.

– Diga também que é a nora que mamãe pediu a Deus.

– Isso! Quem sai aos seus não degenera ou fraqueja.

– E agora, olha esses bombados. Tudo viado, duas mocinhas.

– Isso foi falta de surra. Os pais deixaram, com esse papo de politicamente correto. Filho meu levaria uns tapas ainda nos cueiros, não é, queridos?

– Também acho. Eu não precisei apanhar, mas o maninho aqui ainda está precisando tomar mais umas palmadas.

– Vai se f…. vou te encher de porrada.

– Meninos, parem com isso, os inimigos estão nas ruas.

– Calma! Os viadinhos já foram, vamos continuar observando.  Olha aquele vagabundo ali, por exemplo.

–  Negão preguiçoso, em vez de procurar emprego, fica com esse papo de vigiar carro.

– Vai acabar dizendo que é quilombola e engordar 10 arrobas.

– Fora que mete a mão na propriedade dos outros. Leva um tiro na cara, aí vem essa rapaziada dos direitos humanos dizer que era um trabalhador.

– Já falei que dei apenas uma fraquejada, mas ela que não me apareça lá em casa com um negão ou palestino. Entra no cacete, não interessa que seja minha filha.

– Vocês ficam falando dos viados e nada dizem sobre as sapas. Vejam essas duas, não têm mais vergonha, de mãozinhas dadas. Safadas.

– Que lésbicas, que nada! Foram mal-comidas. Eu curo as duas com uma trepada só.

– Eu não encho de porrada com medo de se apaixonarem.

– Essas são até bonitinhas, merecem ser estupradas. Não é como as feiosas que não merecem nem um beliscão.

– Mas vamos ao que interessa: tem que distribuir arma para todo mundo. Temos que estar preparados para defender nossas famílias e propriedades.

– Os vagabundos ficam com esse papo de humanidade e aproveitam que você foi assaltado para dizer que arma não resolve.

– Porra, você tem que lembrar desse assalto? Sabe que fico puto e insiste.

– Desculpa, pai.

– Arma é importante para acabar com os bandidos.

– E os bandidos armados que são nossos amigos?

– São amigos, a gente protege.

– Olha aquele deputado ali. É safado, né?

– Todos são. Por isso, fomos eleitos, vamos moralizar a política, nem que seja preciso torturar.

– Como diria o coronel Brilhante Ustra!

– E com a graça de Deus.

– Isso! Direitos humanos só para humanos direitos.

– Fumaça, tudo fumaça para esconder a caixa-preta dos roubos.

– Vamos abrir essa caixa.

– Bem, chega, vamos embora. Quem paga?

– Ninguém. O dono tem que ficar satisfeito porque a gente parou aqui para tomar água de coco.

– Anauê.

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