Não é novidade pra ninguém que as redes sociais vêm sendo usadas há um bom tempo como instrumento de manipulação da opinião pública. Na pandemia, as fake news sobre a covid e, principalmente, sobre as vacinas, fizeram com que os CEOs das principais adotassem medidas mais rígidas quanto a divulgação de informações por meio das mídias sociais. Na política, as eleições americanas de 2020 são o exemplo do estrago que o acirramento político instigado pelas redes sociais pode causar à democracia. Após a invasão do Capitólio por eleitores revoltados com a derrota do candidato republicano, o Twitter decidiu pelo banimento permanente do ex-presidente Donaldo Trump da plataforma, acusado de incitar os manifestantes por meio do Twitter.
Foi um baque e tanto para Trump, acostumado a usar o Twitter para tudo, até pra governar. Passados quase dois anos, republicano já disse que não pretende voltar para a rede social, mesmo que sua antiga conta seja devolvida.
Fã incondicional do ex-presidente americano, Bolsonaro costumava imitá-lo também na forma de usar a ferramenta. Tuitava sempre que queria passar recados, tanto para aliados quanto para adversários. Além de usá-la para anunciar alguma decisão do seu governo. Em março de 2020, chegou a ter a conta bloqueada “por mal comportamento”, mas continua com ela ativa com 7,6 milhões de seguidores.
Esta semana, a notícia da venda do Twitter para o bilionário sul-africano Elon Musk pela bagatela de U$ 44 bilhões (o equivalente a cerca de R$ 215 bilhões), fez a alegria de bolsonaristas incomodados com as novas regras de uso impostas pela rede. A comemoração pode ter sido precipitada. Afinal, até o fim deste ano nada deve mudar efetivamente na rede do passarinho, como é conhecido o Twitter. Antes de o negócio ser concluído é necessária a aprovação formal dos acionistas da empresa e dos órgãos regulatórios.
De qualquer forma, os bolsonaristas enxergaram nas primeira falas de Musk uma brecha para voltarem a atuar de forma mais intensa no Twitter, especialmente por ser ano eleitoral e as redes sociais foram ferramentas fundamentais em 2018. Na declaração que fez sobre a compra da plataforma, o bilionário disse que “a liberdade de expressão é a base de uma democracia em funcionamento e o Twitter é a praça da cidade digital onde assuntos vitais para o futuro da humanidade são debatidos”.
A fala de Musk acendeu o alerta vermelho entre a turma que se diz contra fake news e andava feliz com o controle imposto pelas redes sociais. O assunto virou debate dentro do próprio Twitter e foi parar no chamado Trending Topics, ou TTs da rede. Aliás, o TT é o grande diferencial do Twitter em relação às demais plataformas de mídias sociais. É aí que toda influência da rede se concentra. Quem nunca ouviu falar que tal programa ou tal assunto está nos TTs do Twitter?
É por meio desse ranking de assuntos do momento que o Twitter consegue influenciar vários setores da sociedade, inclusive até mesmo outras redes sociais. Os programas de entretenimento da televisão comemoram quando viram assunto nos TTs. Temas que poderiam passar desapercebidos acabam virando notícias em sites ou mesmo em telejornais, locais ou nacionais. Mas o mais preocupante é que essa influência pode afetar decisões importantes como tomar ou não vacinas ou mesmo o resultado das eleições. É aí que mora o perigo.
É por meio dos TTs do Twitter que um assunto ou uma pessoa passa ser destaque do dia. No final da tarde desta terça-feira, por exemplo, a hashtag mais comentada no Brasil era “Bolsonaro 2022”, com 131 mil menções. Um reflexo da fala de Musk sobre “liberdade de expressão” dentro da plataforma. Pelo menos era o que alguns tuiteiros afirmavam em seus comentários.
Mas é bom os bolsonaristas não esquecerem que, por outro lado, Musk deixou claro que pretende criar mecanismos como autenticar todos os usuários humanos e abrir o algoritmo, para acabar de vez com os chamados “boots”, os famosos robôs, que podem levantar qualquer hashtag. Recurso muito usado pelos aliados do presidente.
O Twitter está entre as 10 maiores redes sociais do mundo. Atualmente ocupa o 9º lugar, a frente apenas da Reddit, uma rede voltada para a turma dos jogos e do NFTs. Conta com cerca de 436 milhões de usuários em todo planeta. Isso equivale ao número de seguidores que o jogador português Cristiano Ronaldo tem apenas no Instagram. No Brasil, ocupa o 8º lugar entre as mais usadas, com pouco mais de 17 milhões de usuários. Metade do número de seguidores da ex-BBB Juliette Freire no Instagram, 33,7 milhões.
A maior rede atualmente é o Facebook, que tem 2,9 bilhões de usuários no mundo, sendo 130 milhões somente no Brasil. Em seguida vem o YouTube, com 2,5 bilhões no mundo e 127 milhões aqui e o WhatsApp, com 2 bilhões de usuários no planeta e 120 em nosso país. A rede que mais cresce atualmente é a chinesa TikTok, a das dancinhas, que este ano atingiu mais de 1 bilhão de usuários no mundo.
Agora é esperar pra ver até onde Elon Musk trará avanços ou atrasos ao Twitter. E mais: até que ponto influenciará as outras redes sociais e, consequentemente, as decisões políticas e sociais no mundo. Antes, porém, o Brasil terá que enfrentar o teste da eleição presidencial em outubro próximo. Afinal, com ou sem regras, a manipulação de informações pelas redes sociais será intensa. E as fake news estarão por toda parte. Temos que ficar muito atentos!