Nos anos 1990, o cientista político americano Joseph Nye cunhou o termo “soft power” (poder suave) para se referir à habilidade que um país possui de “afetar outros por meio da atração e da persuasão” e não pela supremacia militar — o chamado “hard power”.
Esse poder surge da atratividade de um país por meio da sua cultura, de sua política e de seus ideais. Quando se consegue os outros admirem os seus ideais e queiram o que você quer, não é preciso gastar muito com políticas de incentivo e sanções para movê-los em sua direção. A sedução é sempre mais eficaz que a coerção, e muitos dos valores como democracia, direitos humanos e oportunidades individuais são profundamente sedutores.
Para jogar esse jogo, um país pode usar ferramentas culturais como a música, o cinema, o esporte e a língua, para construir relações de empatia e de admiração nos demais.
Os EUA são o melhor exemplo de exportação de um certo estilo de vida e de capacidade tecnológica. É fácil perceber a influência de Hollywood, Disney, Netflix, Spotify, Harvard, Stanford, Nike, Google, Apple, Microsoft, Amazon e dezenas de outras siglas. Milhares de estudantes estrangeiros vão estudar nos Estados Unidos e disseminam os valores da cultura americana nos seus países.
Essa ferramenta cultural não é tão utilizada pela China. A segunda maior economia do mundo e a maior das potências rivais dos americanos não exporta sua língua, seu cinema e seu modo de vida da mesma forma que as demais potências fazem. A China procura ampliar esse soft power com investimentos em infraestrutura em países menos desenvolvidos, como no projeto Cinturão e Rota da Seda, enquanto perde em direitos humanos e democracia. A Rússia, por outro lado, tenta se impor no mundo pelo hard power mesmo. Não se percebe nela esse lado soft, com as consequências de sanções como vemos agora e a disseminação de uma sensação antipática.
O conselho dado por Maquiavel aos príncipes italianos quatro séculos atrás – ser mais temido que amado – tornou-se ineficaz. Hoje, em política, é importante ser temido e amado. Mas, para uma nação que não tem poderio bélico, é muito mais eficiente ser apenas amada.
E como o Brasil pode criar esse soft power? Certamente isso seria importante para uma maior presença no mundo. Há vários pontos que podem colaborar para isso. Uma democracia estável inspira respeito. Eliminar pobreza, com certeza dá uma boa imagem. Uma cultura que ganha o mundo com a música, a bossa nova por exemplo, o cinema e as novelas trazem simpatia.
Alguns pontos, porém, podem mostrar um Brasil quase único no mundo: uma política ambiental conectada com as demandas mundiais, incluindo o ícone Amazônia, e a maior diversidade do planeta; uma matriz energética limpa, como já acontece e pode ser incrementada; e o papel de grande produtor de alimentos para o mundo, com sustentabilidade. Seriam trunfos no apoio às demandas de entrada na OCDE, no Conselho de Segurança da ONU e para acordos de comércio, que estão cada vez mais exigentes no tema sustentabilidade ambiental e em todos os outros da agenda ODS(Objetivos de Desenvolvimento Sustentável).