“É preciso parar esse cara!”. A frase-advertência do senador Tasso Jereissati (PSDB- CE) dita ao jornal o Estado de São Paulo e publicada na edição do dia primeiro de março próximo passado, pode ser interpretada como a senha para a urgência de se por um dique definitivo no delírio mortífero do presidente Bolsonaro.
Na ocasião, Jereissati reagia ao comportamento do presidente durante sua visita ao Ceará estimulando aglomerações de pessoas, dois dias após o governador Camilo Santana (PT) ter decretado toque de recolher diante do avanço incontrolável da pandemia entre os cearenses.
Tasso Jereissati tem sido um crítico prudente do governo Bolsonaro. Foi um dos signatários do pedido da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a conduta de Bolsonaro e do seu governo no combate à Covic-19.
Ele tem pressionado o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, no sentido da imediata instalação da CPI. Numa recente reunião virtual do Senado, Jereissati voltou ao tema da CPI, dirigiu-se ao presidente e aos seus pares demonstrando todo o seu desconforto com o comportamento do presidente da República e da incompetência e omissão do ministério da Saúde.
Entre um momento e outro, o governador do Rio Grande Sul, Eduardo Leite, também do PSDB, fez duras críticas a Bolsonaro diante da pandemia, os 27 governadores do País ensaiaram uma união com o objetivo de comandarem uma coordenação de combate ao vírus e, na última terça-feira, o presidente da Câmara e do, deputado Artur Lira e o senador Rodrigo Pacheco, deram um prazo de 24 horas ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para apresentar um calendário de vacinação contra a Covid-19 em todo o País.
O partido Novo, por sua vez, que sempre apoiou o presidente Bolsonaro, anunciou na terça-feira que, agora, fará oposição ao governo.
Como não temos cidadania, nossas instituições estão degradadas, nunca tivemos exatamente uma elite comprometida com a Nação e é evidente uma carência de líderes consistentes e contemporâneos no País, não é simples atribuir significados e consequências reais a essas últimas manifestações, ainda que se possa creditar honestidade e firmeza de propósito aos seus signatários.
Mesmo assim, num esforço generoso de compreensão, e porque não dizer também com um pouco de esperança, merecem um olhar mais atento as manifestações do senador Jereissati.
Empresário com assento na mesa restrita do grande capital empresarial e financeiro do País, ex-governador do Ceará, interlocutor acreditado no que ainda há de respeitável no mundo político do País, senador da República, Tasso Jereissati não costuma agir por impulso e menos ainda por humores ou impressões circunstanciais.
Ao anunciar a urgência em se conter o comportamento criminoso do presidente Bolsonaro, Jereissati, certamente, não agiu sozinho. Não daria a entrevista que deu ao Estadão e nem ocuparia o Plenário do Senado para fazer as ponderações e advertências que fez sobre as omissões do governo diante da nossa crise sanitária, sem antes ouvir sua rede incomum de relações e poder.
O mesmo não podemos dizer sobre o comportamento dos governadores. Com exceção do governador de São Paulo, João Dória, que, pelo menos no que se refere à pandemia, agiu de forma correta e elogiável, a maioria dos demais governadores se acovardaram oferecendo um silêncio cúmplice diante dos destrambelhos do governo, dos seus ministros e do presidente da República. A reação tímida, aparentemente fugaz, só aconteceu quando a ação do vírus sugeriu o caos, o terror e o pânico em todo o País.
Como se fosse pouco, trazendo um novo par grotesco para o picadeiro onde o Bolsonaro costuma bailar sozinho, o ministro Edson Fachin, do STF, decidiu informar à República que o Lula, aquele que até ontem era um presidiário condenado por corrupção, é novamente presidenciável. É ou não é uma feijoada completa para animar a nossa, agora, divertida pandemia? Como já nos advertiu certa feita o elegante e bem-humorado Pedro Malan – ex-ministro da Fazenda do FHC e amigo do Tasso – “no Brasil até o passado é incerto.”
Diante da melancolia e a ameaça do desespero, costumo sorver uma preciosa Boi Parido. Uma respeitável cachaça do melhor recanto das Minas Gerais. Vou enviar uma garrafa para o Instituto Lula. Viva a República!