Ciro chama Lula pra briga e tenta se consolidar como a terceira via

O pedetista aposta no derretimento de Bolsonaro até as eleições e quer ganhar o apoio dos eleitores nem nem.

Presidente Lula no Palácio Alvorada . Brasília, 07/09/2007 - Foto Orlando Brito

Há meses o pré-candidato do PDT à presidência da República, Ciro Gomes, vem tentando se apresentar como a terceira via. Não poupa críticas ao presidente Bolsonaro e nem ao ex-presidente Lula. A estratégia é ganhar o apoio dos eleitores que não querem nenhum nem outro. O problema é que até então seu discurso não empolgava muito. Afinal, criticar Bolsonaro virou senso comum, qualquer pessoa o faz e com propriedade, até porque argumentos não faltam, todos eles oferecidos pelo próprio Bolsonaro, sua família e uma penca de integrantes do governo.

No Twitter, o embate entre Ciro e Dilma

Agora, parece que o pedetista acertou o alvo e ganhou as manchetes dos jornais e a ira dos petistas ao afirmar que “Lula conspirou para tirar Dilma do poder”. A ex-presidente não gostou nada das críticas e partiu com tudo pra cima de Ciro Gomes. Caiu na provocação, exatamente como queria o candidato.

Ciro botou o dedo em uma ferida que ainda não cicatrizou no mundinho petista.  Há mágoas reciprocas. Lula realmente deu força a uma articulação com o MDB para enquadrar Dilma que não deu os resultados esperados e deslanchou o processo de impeachment.

Os argumentos de Ciro fazem sentido e têm consistência. Talvez seja isso que mais irrita os petistas apaixonados. No vídeo que postou em suas redes sociais, ele faz um relato dos vários acontecimentos que resultaram no impeachment. E afirma que a eleição de Bolsonaro é resultado da corrupção escancarada no governo Lula e da incompetência da gestão Dilma Rousseff, contrariando a narrativa criada pela cúpula petista e difundida à exaustão pela militância.

A estratégia de Ciro Gomes é clara. Ele quer se viabilizar como terceira via demostrando independência em relação aos dois lados, em especial ao PT, poupado por boa parte dos demais candidatos. As críticas a Bolsonaro são duras, mas o foco é maior é no ex-presidente. Esse é o grande diferencial. Os dois estiveram no mesmo lado da trincheira e se conhecem muito bem.

Ciro tem motivos de sobra para não gostar de Lula e nem dos petistas. É um pote até aqui de mágoas desde a eleição presidencial de 2018. Foi um dos principais críticos da prisão do petista pela Lava Jato e se manifestou contra o impeachment de Dilma Rousseff. Em troca levou uma rasteira do ex-presidente que, da cadeia em Curitiba, articulou para acabar com a aliança entre PDT e PSB em torno da candidatura do ex-governador do Ceará.

Lula e Ciro: encontro em São Paulo – Foto Divulgação PT

Outro ponto que faz com que Lula seja o alvo preferencial é a avaliação de que Bolsonaro, com a popularidade derretendo, não deve chegar ao segundo turno, talvez sequer seja candidato à reeleição. Assim,  Ciro fica livre para disputar o voto de bolsonaristas e do eleitorado nem nem, a turma que não quer nem Lula nem Bolsonaro.

João Santana vai adorar fazer campanha contra o partido que o fez usar uma tornozeleira eletrônica. Deve ter muitos segredos ainda por revelar.

A conferir.

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